Há poucos dias, perguntou-me um jovem repórter sobre a paternidade atribuída a Antonio Gramsci na produção do roteiro para a construção da hegemonia e para a revolução cultural no Ocidente. Segundo me contou, outros autores já haviam mencionado esses assuntos em ensaios anteriores aos “Cadernos do cárcere”. Queria a minha opinião.
Disse a ele que não conhecia tais autores, mas fazia muito sentido supor que tivesse acontecido isso mesmo porque no mundo das ideias, como no mundo da ciência, as novas teorias são construídas sobre anteriores ideias e dúvidas alheias. Há quase mil anos um filósofo francês, Bernard de Chartres reconheceu a regra de modéstia segundo a qual somos “anões nos ombros de gigantes”.
Nas relações entre os indivíduos e o estado, continuei falando ao repórter, é longa a experiência humana sob servidão, tirania, drama e dignidade ofendida. E é relativamente pequena a de vida com liberdade e dignidade. Contudo, no tempo em que vivemos, é absolutamente certo que todo poder que queira ser absoluto, impondo-se de modo perene a tudo e a todos, como são os totalitarismos e as ditaduras, precisa destruir dois inimigos que lhe são naturais: a instituição familiar e a ideia de um ser superior.
Ambos são freios instransponíveis sem o uso da força bruta. Ambos estabelecem uma hierarquia de ordem natural, ou seja, em acordo com a natureza humana, que oferecerá resistência, no consciente e no subconsciente dos indivíduos e das sociedades. Por isso, os redutores de cérebros em operação nas salas de aula, em todo o Ocidente, centram suas narrativas e manipulações na depreciação da autoridade dos pais. Por isso, família passa a ser uma coisa qualquer, de suposta utilidade e é crescente o número de pais e de mães (muito mais daqueles do que destas) que fogem das responsabilidades inerentes à sua missão. Por isso, enquanto tiranos se afirmam como deuses substitutos, a ideia de Deus é ridicularizada e expurgada dos supostamente sábios ambientes da Educação, da Cultura e da Comunicação Social.
Nessa amarga trilha, a experiência dos últimos cem anos proporcionou um amplo cadastro de desastres sociais e políticos que se traduzem em desumanização do humano e em novas versões da milenar servidão. O leitor atento dirá que nesse meio tempo se infiltraram as drogas e eu contestarei que elas sempre tiveram consumidores, mas o número destes se multiplicou e se disseminou rapidamente pelas fendas abertas em sociedades onde os dois pilares acima se foram fragmentando.
Lembrei, por fim, ao meu interlocutor que para o ser humano são muito mais benéficas a autoridade amorosa dos pais e a autoridade infinitamente amorosa de Deus, do que a autoridade nada amorosa do Estado, que só se impõe pela opressão e pela força bruta, longe, muito longe, de uma ordem moral decente.
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