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O circo

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O circo chegou! … O circo chegou! Anunciavam. A chegada do circo a uma pequena cidade fazia uma verdadeira revolução. A euforia da meninada e também dos adultos tomavam conta do assunto. Uma das maiores atrações era o palhaço com brincadeiras cômicas e piadas engraçadas que divertiam a plateia e despertava o imaginário das crianças.  Apresentava, também, dramas e comédias que suscitavam muitas lágrimas nos espectadores pela comoção da exibição.

Enquanto era preparado para ser erguido na praça ou no campo de futebol, as pessoas curiosas e os meninos iam assistirem à armação do circo e conhecerem os artistas, fato que movimentava a rotina da pequena cidade.

Em seguida acontecia o desfile dos artistas pelas ruas.  O palhaço com pernas de pau, em grande altura, e com um megafone, anunciava:  – Respeitável público, hoje tem espetáculo – tem sim senhor, respondia a meninada; – às oito horas da noite?   Sim senhor, os meninos respondiam em coro.

 O palhaço era acompanhado pelos meninos contratados para essa finalidade e respondiam às perguntas:  – O palhaço o que é?   – É ladrão de muié. – Ó raio, ó sol, suspende a lua! Viva o palhaço que está na rua, etc. Os meninos cadenciavam com batuque ritmado com cacos de telhas ou outros materiais de percussão, acompanhavam o tom da cantiga.

Eu via e ouvia a algazarra da galera e os comentários dos colegas, mas não participava por conta do trabalho. Fiquei curioso e frustrado por não poder compartilhar a euforia dos meus companheiros de infância, pois trabalhava como caixeiro numa venda situada na Travessa conhecida por ‘Beco do Tiro’, na vila de João Amaro, localizada nas barrancas do Rio Paraguaçu.

Indaguei o preço do ingresso e disseram-me o valor, mas quem acompanhava o palhaço tinha entrada gratuita garantida pelo trabalho executado. Os que acompanhavam o palhaço tinham o braço marcado para comprovação na hora da entrada. Os meninos tomavam banho no Rio Paraguaçu com os braços suspensos para não apagar o carimbo que permitia o ingresso no circo.

Dinheiro eu não tinha, vale não podia mais fazer. O meu salário estava comprometido com o orçamento doméstico por ser eu arrimo de família, e a minha genitora fazia as compras e descontava do meu ordenado. Já estávamos devendo para a casa.

Fiquei matutando uma maneira de conseguir o dinheiro da entrada no circo. Surgiu-me a ideia de afanar a grana correspondente.  Ao passar o troco para um freguês, coloquei o plano arquitetado em ação. Peguei, no caixa, uma moeda de valor correspondente ao da entrada no circo e coloquei-a na concha da mão, de modo que ninguém percebesse o ato ladino. Até aí, tudo correu bem. Porém, ao depositá-la na algibeira, dei um tremendo azar!

 O bolso estava furado, e a moeda deslizou mansamente até os pés do patrão que, desconfiado, investigou-me sobre a origem do dinheiro. Imbuído do espírito de que quem fala a verdade não merece castigo, contei-lhe a veracidade do fato.

Fui admoestado severamente pela ilicitude do procedimento e, como castigo, passou-me inúmeras contas de somar, com várias parcelas, que levei muito tempo para resolvê-las. Como havia passado da hora de retornar para casa, minha mãe, desconfiada que houvesse ido para o circo, foi saber do meu paradeiro com o patrão, que lhe contou o ocorrido.

O proprietário puniu-me com o castigo mencionado que teve a aprovação da minha genitora. Ao terminar as contas, levei-as para ele conferir e me liberar, porém redarguiu que estava faltando tirar a prova dos nove fora, mais um suplício, para minha infelicidade.  Ao chegar em casa, ainda fui surrado para não mais cometer esse procedimento ilegal e desonesto.

Via e ouvia a gandaia cantarolar em coro com o palhaço:  – Balanceiro da usina… É danado pra roubar… Ele rouba no olhar… – Lá vem a lua saindo… Por trás do pé de fulor… – Um beijinho eu não lhe dou… – Hoje tem espetáculo? Respondiam: Tem sim, senhor!”. Esse ritual era acompanhado de um requebrado dos meninos obedecendo às insinuações do palhaço: – requebra, requebra meninada, de forma repetida.  Tal alegoria encantava o povo pelos trejeitos engraçados com que os garotos faziam com o meneio do corpo.

Essa situação deixava-me profundamente triste por não estar participando dela e, ao mesmo tempo, relembrava das advertências do ocorrido. Ficava, então, a imaginar os gracejos do palhaço e suas peripécias de histrião;  o show da bailarina de corpo esguio e perfeito,  dentro de um biquíni minúsculo, escandaloso para a época, mas que chamava a atenção, seu rebolado e a famosa ‘paradinha’ que tanto se comentava e provocava a fértil imaginação dos jovens adolescentes.

Os mais afoitos e sem dinheiro furavam a lona e adentravam o circo para assistir ao espetáculo, sujeitando-se a serem flagrados pelo “mata-cachorro”. Falava-se também de moças que fugiam com artistas do circo e, em muitos casos, o fato era verdadeiro.

Essa experiência malfadada de surripiar o alheio marcou indelevelmente a minha personalidade, e, fiz voto de que tal fato jamais se repetiria.

Comemora-se no Brasil o dia do Circo na data de 27 de março, em homenagem ao palhaço brasileiro Piolin, que nasceu no dia 27 de março de 1897 na cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo. Considerado um grande palhaço, ele era famoso por sua enorme facilidade em fazer os outros rirem e também pela habilidade como ginasta e equilibrista. (Site do Plenarinho).

A atividade circense é a manifestação mais antiga das artes e deve ser encarada como um movimento cultural que encanta crianças e adultos pela diversidade de suas apresentações: palhaços, trapezistas, dançarinas, domadores, equilibristas, comédias, dramas e outras atrações.

Os circos dividem-se em dois grupos: os antigos e os circos modernos. Estes são sofisticados com números e com tecnologia avançada, mas ambos encantam e divertem sobremaneira, garotos e também os adultos relembrando o passado de criança. O circo tem esta capacidade: todo mundo vai a ele. Vão o vovô e o netinho; o casal de namorados; as famílias levando as crianças; o professor; o médico; o limpador de carros; o pedreiro; o comerciante; e até o desempregado.

Versos da música “O circo” (1967), de Sidney Miller “faço versos pro palhaço que na vida já foi tudo/foi soldado, carpinteiro, seresteiro e  vagabundo /sem juiz e sem juízo fez feliz a todo mundo/mas no fundo não sabia que em seu rosto coloria/todo encanto do sorriso que seu povo não sorria/vai, vai, vai começar a brincadeira”.

“CIRCO SÓ É BOM SE TIVER UM BOM PALHAÇO”

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