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O circo de Michel Temer

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É impressionante como o grupo político que atualmente gravita a Presidência da República não tem qualquer vestígio de vergonha ao demonstrar desprezo pelo Brasil e por suas instituições. Não há outra definição melhor: para a alta cúpula político-palaciana, o Povo brasileiro é absolutamente desprezível.

Basta observar a crise que, neste momento, chacoalha as estruturas supostamente democráticas. Enquanto o país derrete diante de um colapso ético de enorme envergadura, o presidente da República encontra-se envolvido até o pescoço num escandaloso caso de prevaricação e tráfico de influência para beneficiar ministro de Estado com um “jeitinho” na liberação de um empreendimento imobiliário privado junto a órgão de fiscalização da administração pública. É a lama!

É fundamental esclarecer: o que aconteceu em Brasília na última semana é gravíssimo. Não é aceitável que o presidente da República e seus ministros e assessores acreditem piamente que podem fazer uso, por exemplo, da Advocacia-Geral da União (AGU) para dirimir questões de natureza privada de um político, tampouco exigir ingerência político-partidária nas competências do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Tal compreensão só revela os métodos da nauseabunda classe política brasileira e a Operação Lava-Jato está aí para provar como esse modelo é danoso ao país e aos cofres públicos dos pagadores de impostos. 

Impressiona também assistir aos líderes partidários, incluindo o presidenciável senador Aécio Neves, mandatário nacional do PSDB, sair em defesa do descalabro e acusar frontalmente o diplomata Marcelo Calero, ex-ministro da Cultura, por ter gravado os achaques que recebeu do Chefe de Estado e de seus asseclas. Convenhamos, não fossem as gravações, os canalhas da Praça dos Três Poderes já teriam fritado o ex-ministro e criado cabeludas narrativas para desmoralizar aquele que não aceitou participar do ato criminoso e o denunciou às autoridades competentes. Prova maior de tal desvergonha são esses mesmos líderes tentando enquadrar o ex-ministro na Lei de Segurança Nacional, como se um terrorista fosse. Quem são os verdadeiros terroristas dessa história?

Não por acaso, ao cruzar a Praça, o cidadão brasileiro encontra um Congresso Nacional diminuído, trabalhando dia e noite — e até no breu da madrugada — para livrar seus membros dos crimes cometidos, tentando aprovar uma anistia total e irrestrita para os maiores pilantras do História do Brasil. E, completando a trina do poderio, temos um Supremo Tribunal Federal (STF) lento, ineficaz e garantidor da impunidade que fez deste país um campeão mundial da roubalheira, uma terra onde os maiores criminosos são tratados pelo vocativo “Vossa Excelência”. É mais que lama. É circo!

A principal lição que o Brasil precisa aprender em termos de política é que não adianta trocar apenas a lona se, no picadeiro do circo, os palhaços continuam os mesmos. Por enquanto, os palácios circenses de Brasília continuam abrigando barbáries pornográficas e muito colarinho-branco.

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