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O desejo de possuir

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O ser humano precisa de posses. Nós trabalhamos, compramos, queremos ter as nossas coisas. Mas qual é o limite para isso? A ambição de possuir é essencial ao ser humano. Nessa aspiração encontra-se também a ânsia por tranquilidade. O que esperamos das posses que possuímos é não ter mais nenhuma preocupação e poder assim abandonar-se tranquilamente a vida. Por isso, de certa forma, no desejo de comprar, de conquistar as coisas e dizer: eu quero ter isso para depois tranquilizar. No fundo é isso. Porém a experiência mostra que as posses também podem nos possuir, que somos possuídos pela nossa aspiração a possuir sempre mais. Nossa cobiça por posse jamais será satisfeita se nós orientarmos a nossa vida exclusivamente para as coisas mundanas, pois por mais posses que tivermos a nossa ansiedade mais profunda por tranquilidade e sossego e pela harmonia conosco mesmos, não poderá ser satisfeita.

É por isso que a Bíblia transforma esse instinto apontando-nos os bens interiores, como é o caso da pérola preciosa e do tesouro do campo. Dentro de nós, dentro de nossa alma podemos encontrar uma imensa riqueza. É aí que encontramos Deus e todas as potencialidades com que Nos presentou. Somente quando nos voltamos para essa riqueza interior é que nossa aspiração pela posse exterior ganhará sua devida medida.

Hoje em dia também pode ocorrer uma demonização das posses e uma ideologização da pobreza. O que significa isso? Parece que quem tem posses está com o demônio e quem é pobre é todo santo. Não é assim. Tudo isso não nos ajuda em absolutamente nada. Às vezes a pobreza é até confundida com falta de cultura. Quando a pobreza é vista apenas como negação da vida é porque ela ainda não é capaz de libertar-nos. A verdadeira pobreza sabe lidar com a aspiração pela posse de uma maneira bem humana. Ela se permite essa aspiração, porque todos têm essa aspiração. Mas sabe relativizá-la. Uma vez que é conhecedora de uma riqueza mais profunda, ou seja, estamos dizendo que a aspiração pelas posses é boa, porque nos faz andar. Só que nós não podemos nos agarrar só a isso. Deus é maior. Deus é melhor. Por isso, conquistar sim, mas perceber que há uma força muito mais bonita e mais santa que transforma e acalenta o nosso coração.  Somente em vista deste valor interior é que seremos capazes de desprender-nos dos bens exteriores e libertar-nos da cobiça de querer possuir sempre mais. Pensemos nisso.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745