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O gênero “neutro” ou a “neutralização” de gênero

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Tenho visto algumas matérias sobre a “neutralização” do gênero na língua portuguesa, no Brasil, algumas contra e algumas a favor. Digo no Brasil, porque em Portugal não vejo isto. O que também não tenho visto é alguém usar essa novidade, nem em jornais, nem em revistas, nem na televisão, nem na internet, nem ao vivo e a cores. Tá certo que tenho mais de sessenta anos, mas tenho muitos jovens nas minhas páginas em redes sociais, pois sou professor e escritor. Importante frisar que leio meia dúzia de grandes jornais brasileiros todos os dias.

Mas vamos ver primeiro o que é o “gênero neutro”, que alguns insistem que são de emprego corrente, atualmente: “uso de feminino marcado no caso de substantivos comuns de dois gêneros – exemplo: “ a presidenta” – pergunto: vai ser “a estudante”, também?; emprego de formas femininas e masculinas, sobretudo em vocativos, em vez do uso genérico do masculino – exemplo: alunos e alunas, ao invés de Alunos!; inclusão de novas marcas no final de nomes e adjetivos, como “x” e “@” – exemplos: “amigx, amig@” (que coisa absurda, não? Isso não é linguística, nem gramática: o símbolo @ nem ao menos é uma letra); ampliação da função de marcas já existentes, como a terminação “e” – exemplo: “amigue”; e alteração na base de pronomes e artigos – exemplo: “ile”, “le” (outra vez: que absurdo, nunca vi nada disso).

De novo: não vi, ainda, em lugar nenhum esses disparates como “amigx”, “amig@”, “ile”, “nile”, “dile”, “aquile”, etc. Essa não é uma questão linguística, pois essas novidades não são de uso comum, não são de uso geral, pelo contrário, é de uso bem restrito. Línguística é o estudo da língua como ela é falada, mas o presente caso da “neutralização” de  gênero está se constituindo mais em uma imposição, por que não é de uso geral. Para que querer fazer mudanças na língua – mudanças que não são relevantes, nem inteligentes, nem necessárias – numa época tão difícil, quando precisamos priorizar a educação, que está falida em nosso país? Tivemos dois anos sem aula nas nossas escolas, infelizmente, devido à pandemia, a educação já vem sendo sucateada de há muito tempo, o abandono do ensino no Brasil é flagrante, então por que querer fazer mudanças, bagunçando ainda mais o sistema linguístico? Não temos obrigação de saber a preferência sexual de cada um e nem todas as pessoas homo querem ser identificadas, porque o que fazem na vida privada é direito de cada um, não interessa a mais ninguém. E se não soubermos isso, como usar as “neutralidades”?

Então o tratamento para as pessoas do  “terceiro” gênero é uma questão de educação, de novo, para não esquecer. E  de respeito. Precisamos tratar com respeito todas as pessoas, para merecermos que sejamos tratados com respeito também. Se nos tratarmos com respeito, não é preciso inventar palavras novas para identificar o “gênero” de uns e de outros.

Precisamos parar de dar destaque a debates sobre assuntos que não são prioridade geral e dar importância a temas prementes, como o resgate da educação no Brasil. E quando falo educação estou falando de ensino, conforme reza o dicionário português. Ensino,  coisa tão menosprezada em nosso país. Há que se estruturar o ensino para que tenhamos um povo que possa escolher o que realmente é prioridade e assimilar, se for o caso, uma nova atualização na língua, desde que linguisticamente amparada, é claro. Porque a mudança que querem fazer parecer necessária é uma imposição arbitrária e descabida, beirando o ridículo. Respeito quem acha que ela é necessária, mas respeito também a grande maioria do povo brasileiro que nem sabe do que se trata. Que as mudanças sejam usadas entre as pessoas que querem usá-las, tudo bem. Se o uso se generalizar, o que duvido muito, quem sabe será o caso de voltar a discutir a sua inclusão?

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745