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O ladrão da vida: A morte!

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Nós carregamos a ideia de que existe hora da morte. Facilmente ouvimos a expressão "era hora dele".
Isso, provavelmente, decorre da ideia de que Deus é autor e dono da vida. Que isso seja verdade, nós
sabemos. Mas também tem suas consequências. Dizer que Deus é dono da vida é uma ideia verdadeira,
mas não pode contradizer outras verdades acerca de Deus e da vida, que são igualmente verdadeiras.
Junto dessa verdade está também a noção de que Deus nos cria por amor, nos dá liberdade total e a
tarefa de construir a vida. Dizer que é dono da vida pode gerar a consequência de que ele determina
tudo. Ele dá a vida e tira a vida. Essa é a conclusão natural da ideia de que Deus é dono. Se é dono ele
manda, faz o que quer, determina com sua vontade a ordem das coisas, marca e define a hora de nossa
morte. Isso passa a ser uma ideia evidente. Porém, embora pareça simpática, não é verdadeira. Isso
choca com a ideia de liberdade. Deus nos criou livres. Se respeita a nossa liberdade em todo o processo
da nossa vida, por que nos tiraria a liberdade marcando a hora da morte? Ele é autor da criação, autor
da vida, mas nos criou livres.
A liberdade nos dá condições de construirmos a nossa vida. Nós somos responsáveis pela nossa
construção. Podemos cuidar ou não da nossa vida. Podemos ter vida longa ou não, conforme o nosso
cuidado, a nossa genética e tantos outros fatores que não podemos controlar. A parte que sai do nosso
controle está entregue à natureza e às circunstâncias. Posso dizer: "aquela pessoa se cuidava muito e
morreu cedo". Ou "aquele não se cuida e está ai vivo e forte". São exatamente as circunstâncias
múltiplas que fogem ao nosso controle que tem seu peso em muitos casos. Porque estão fora do nosso
controle também não significa que Deus esteja controlando. Elas fazem parte da própria natureza das
coisas. O que interessa é aquilo que podemos controlar e assumir como responsabilidade nossa. A vida
consciente e responsável exige cuidado em todas as dimensões. Podemos cuidar do corpo, da mente e
do espírito. Cada uma dessas dimensões traz suas exigências. Para cuidar do corpo precisa boa
alimentação, disciplina e hábitos saudáveis. Práticas e cuidado também exigem a mente e espírito. Se
não fizer nada, pouco crescerei nessas áreas.
Isso mostra que podemos controlar uma parte da vida através do nosso jeito de viver. Podemos
prolongar e muito a vida. Mas quando falamos de vida estamos sempre falando de algo frágil. Não há
garantia definitiva em nada. Não dá para dizer: "viva dessa forma e viverás muitos anos". Da pra dizer
como motivação para a pessoa assumir um estilo de vida saudável, mas isso não garante que de fato
viverá muitos anos. Tem muitas coisas que fogem à regra e ao controle.
Diante da vida frágil está sempre o ladrão da morte. Quando Jesus fala para estarmos vigilantes e
despertos porque não sabemos a hora em que o ladrão vem é isso que ele quer dizer. Quem não vive
uma vida consciente e com sabor pode morrer sem estar consciente. Quem vive desperto, com amor e
sabor também pode morrer, mas se acontecer, partirá feliz e não revoltado com a vida e com o mundo.
Saber que podemos morrer é motivo para vivermos com intensidade todos os dias. O que importa
mesmo é a qualidade dos nossos dias. Isso depende essencialmente do nosso jeito de viver. O ladrão da
vida está na frente de todos, independente de como vivemos. Claro, queremos afastar com o máximo
de nossas forças esse ladrão. Isso mostra que o ladrão da vida é a própria morte e não Deus, que de
maneira errada continuamos a dizer que nos marca a hora da morte.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745