Se partirmos dessa ideia, compreenderemos melhor a existência do mal no mundo. Não dá para dizer que o mundo foi criado perfeito e depois se tornou imperfeito, só para desculpar Deus e culpar o ser humano. Não precisa culpar ninguém. Nem Deus e nem o ser humano. Basta pensar e perceber que o Deus criador que é perfeito e ilimitado cria algo diferente de si, que é o mundo. Deus criou o mundo. O mundo é diferente de Deus. Não há como Deus criar um mundo perfeito e ilimitado. Perfeito só Deus. Ilimitado só Deus. O mundo é imperfeito e limitado desde o princípio de sua criação. Não há como ser de outra forma. Não é possível Deus criar algo perfeito porque Deus estaria criando a si mesmo, o que é um absurdo. Deus é o eterno o incriado. O princípio sem princípio. O perfeito e ilimitado. Isso faz perceber que o mundo que sai de suas mãos não pode ser perfeito e ilimitado, porque só Deus é assim. Só ele, repito mais uma vez. O mundo que sai dele precisa ser diferente Dele. Senão Deus estaria se autocriando, o que é um absurdo. Sendo o mundo limitado e imperfeito, isto é, diferente de Deus, carrega em seu dinamismo os traços de Deus. Porque saiu de suas mãos carrega os traços, as marcas de Deus, mas não é perfeito como Deus é.
Agora já percebemos que aquilo que nós dizemos acerca da criação é inapropriado. Dizemos que Deus criou o mundo perfeito e o ser humano o estragou. Essa ideia não está certa. Deus criou o mundo imperfeito, com traços de perfeição, limitado com traços do ilimitado que é ele mesmo, o criador. Essa ideia pode parecer um pouco chocante. Mas ela vai encontrando evidência e se clareando na medida que a submetemos a nossa razão. Nós pensamos que tudo aquilo que sai de Deus é perfeito. É uma ideia interessante na intenção. Porque se Deus é bom, amor e perfeito, tudo o que sai dele deve ser assim, bom, amor e perfeito. Só que essa ideia volta sempre a questão de que Deus não cria a si mesmo e que perfeito é só ele. Puro amor é só ele. Pura bondade só ele. Nós e a criação carregamos, na imperfeição e no limite de nossa natureza, traços dessa bondade, da perfeição e do amor de Deus.
Diante dessa ideia podemos dizer que o mal está como possibilidade pelo fato de o mundo ser imperfeito e limitado. Não é Deus e nem o ser humano a causa do mal. O mal acontece todo dentro do mundo. Sua causa está dentro do próprio mundo e não fora dele. É possível que o mal aconteça por causa do limite e da imperfeição. Onde existe limite e imperfeição pode haver choques, doenças, catástrofes naturais, problemas e carências. Por isso, dá pra dizer que não dá para pensar esse mundo perfeito, sem nenhum mal. Esse mundo sempre foi e sempre será imperfeito. E isso em nada diminui sua beleza e maravilha. Não precisa dizer que foi perfeito e depois se tornou imperfeito, o que seria um absurdo. Ele sempre foi o que é, com seus males oscilando entre mais ou menos gravidade segundo os períodos diversos da história.
No limite e na imperfeição sempre haverá a possibilidade do mal. Digo possibilidade para não dizer necessidade. Porque é possível que aconteça fenômenos da natureza que tragam mal; é possível que vírus e bactérias provoquem doenças; é possível que as carências e imperfeições afetem a harmonia das coisas e se manifestam como mal para as pessoas ou comunidades. Se não acontece hoje poderá acontecer amanhã ou daqui algum tempo. Por isso, a possibilidade é sempre algo aberto. Impossível será impedir todo e qualquer mal. Reflita sobre isso!
Deuses não existem!
Lendo em Isaías 45:7, quando Deus “fala” sobre o PROBLEMA DO MAL:
“Eu formo a luz. E crio as trevas; FAÇO A PAZ , E CRIO O MAL; eu o SENHOR, FAÇO TODAS ESSAS COUSAS”
O paradoxo de Epicuro é um dilema lógico sobre o problema do mal atribuído ao filósofo grego Epicuro que argumenta contra a existência de um deus que seja ao mesmo tempo Onisciente, Onipotente e Benevolente. Que sabe e pode tudo.
lógica do paradoxo proposto por Epicuro toma três características do deus judaico, omnipotência, onisciência e onibenevolência como, caso verdadeiras aos pares, excludentes de uma terceira. Isto é, se duas delas forem verdade, excluem automaticamente a outra.
Trata-se, portanto, de um trilema. Isto tem relevância pois, caso seja ilógico que uma destas características seja verdadeira, então não pode ser o caso que um deus com as três exista.[1]
Enquanto onisciente e onipotente, tem conhecimento de todo o mal e poder para acabar com ele. Mas não o faz. Então não é onibenevolente.
Enquanto omnipotente e onibenevolente, então tem poder para extinguir o mal e quer fazê-lo, pois é bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto mal existe e onde o mal está. Então ele não é omnisciente.
Enquanto omnisciente e omnibenevolente, então sabe de todo o mal que existe e quer mudá-lo. Mas não o faz, pois não é capaz. Então ele não é omnipotente.
A existência do “mal” tem sido usada como argumento para a inexistência, ou pelo menos, da incongruência da existência de Deus. Epicuro adianta:
“Quererá [Deus] impedir o mal, mas não é capaz? então é impotente. Será que é capaz, mas não o deseja? então é malévolo. Terá tanto o desejo como a capacidade? então porque é que existe o mal?”.