Por Antônio Novais Torres
O elemento era carismático, influente pela posição social do casal. Ele semianalfabeto, contava sempre com o apoio da esposa letrada que o incentivava e o acompanhava e o orientava na sua trajetória política.
Firme e poderosa, opinava e decidia, em última análise, os negócios públicos, era realmente quem mandava, e por todos respeitada pelas suas virtudes e talentos.
O esposo, cônscio da competência administrativa da mulher, aprovava todas as suas decisões. Era julgada pelos funcionários da prefeitura como a mandona.
Por interesse pessoal, o candidato acompanhava o governo eleito, para obter as benesses do poder. Dividia com os parentes e correligionários cargos, quer da prefeitura, quer do Estado por sua indicação. Esse procedimento faz parte do mandamento de muitos prefeitos, embora a lei os recrimine.
Dizem que por trás de determinados homens há sempre uma grande mulher para respaldá-lo. Inicialmente elegeu-se a vereador, galgou à Presidência da Casa, por mais de uma vez, e finalmente candidato a prefeito. Foi eleito nesta condição por três vezes. Era voz corrente: “O homem é bom de votos, mas quem manda na prefeitura é a mulher”.
Com o prestígio e a orientação que recebia da esposa, se mantinha no poder e tirava do cargo os proveitos necessários, sempre ao lado da primeira-dama. Com essa atitude que o caracterizava, beneficiava os amigos e na sua concepção, dizia, nunca desprezar os inimigos. Com moderação e jeito era uma tática infalível, e com esse comportamento, se manteve imbatível. Agradava oposição e situação.
É bom deixar claro que a mulher esteve presente como o maior símbolo dessas vitórias alcançadas pelo alcaide. Como primeira-dama municipal exerceu um cargo (remunerado) importante que a destacava como mulher influente no poder. Neste cargo ela intervinha em todos os outros que achasse conveniente e necessário, para atender os interesses da sua pretensão, desfazendo de qualquer autoridade do cargo. Reunia em si, mais poder que o marido, gestor que não contrariava as suas determinações.
Diz a Constituição: Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.
Os eleitores, cansados do esquema político adotado pelo casal, que favorecia correligionários, e amigos eram beneficiados, houve uma mudança e outro candidato se elegeu com a promessa de um governo leal, justo e sem privilégios.
Contrariado, aborrecido com os acontecimentos, pela perda das eleições, decidiu ir para a fazenda. A esposa não o seguiu, ficou na sede do município, administrando o patrimônio do Casal – todos adquiridos no período do mandato.
Ela não se identificava com os trabalhos rurícolas, era política nata. E diante desse fato, a política era sua obsessão, pleiteou um cargo na prefeitura com o novo prefeito.
O neófito titular da prefeitura, inexperiente com a administração pública, viu na mulher do adversário político – não confundir com inimigo, competência e experiência. Precisando dessas qualidades para tocar o seu projeto governamental deu-lhe a oportunidade para gerir o seu projeto administrativo. Por entendimentos, aceitou o cargo. Serviu ao adversário e compenetrou-se do seu prestígio e da sua autoridade, dirigiu o projeto com êxito, para tanto, contou com apoio do novo gestor.
A mulher tinha apego ao poder e consequentemente a política. Não se importando com a condição partidária do adversário. Ambicionada pelo poder, permaneceu no cargo por alvedrio e fascínio de continuar mandando.
Tudo na vida é uma questão de desejos, preferências e oportunidades. Ninguém é capaz de pressentir o que se passa na mente dos outros. Mesmo que haja respeito mútuo, as preferências podem ditar as regras do jogo, por conseguinte, infere-se que a senhora do ex-prefeito não tinha nenhuma afinidade com a zona rural. Valorizou a cidade em desfavor da fazenda, lugar que não gostava, descartando a hipótese de aí viver com o marido.
Por fim, o alcaide viu na adversária valores e competência administrativa, contrariando o partido e alguns correligionários, a indicou como futura prefeita, que foi eleita.
Enfim, na vida tudo pode acontecer, não há que se discutir, há de se aceitar o que o destino traçou.