Nestes últimos dias, olhamos para a ilha de Cuba com sentimento de solidariedade em relação aos padecimentos a que estão submetidas sucessivas gerações de cubanos, desarmados e impotentes, perante a brutalidade do Estado totalitário, de partido único. Alegramos-nos com as manifestações de rua pedindo liberdade e democracia. Vimos a reação do Estado e ouvimos a proclamação de Diaz Canel convocando os comunistas “a salir à la calle” porque as ruas são dos comunistas, são da “revolución”.
Como previ, foram momentos excepcionais na longa história destes últimos 62 anos naquele país. Mas não havia como levar a algo dada a disparidade de recursos existente entre a máquina dissuasora do regime e o povo, pobre e desnutrido, que começa a se conscientizar sobre as reais causas de suas descomunais carências.
O que custei a perceber foram as semelhanças entre a situação dos cubanos e a nossa, neste momento peculiar de nossa própria história.
Como eles, temos uma imprensa que vê com um olho só e pensa com um lado só do cérebro, a serviço de uma única causa. Lá, para manter o governo; aqui para derrubar o governo.
Como eles, saímos às ruas. Nossas manifestações, porém, têm levado a nenhum resultado desde 2018. Pregamos no deserto, clamamos aos ventos, protestamos contra poderes que não nos escutam. Como os cubanos, estamos reduzidos à impotência.
Como eles, estamos sob uma ditadura. Enquanto a deles é real, aqui a democracia é uma farsa que nos impõe a ditadura conjunta do STF e do Congresso Nacional. Os dois poderes desprezam a opinião pública e tudo fazem para se preservar sem precisar do povo, sem ouvi-lo, submetendo-o ao tacão de seu querer e de suas próprias conveniências.
Claro, nosso presente é bem melhor do que o deles e nossas perspectivas também. Mas seria imprudente desconhecer que há, aqui, um caminho que leva àquela outra realidade.