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O que sobrava agora falta

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Ao ver a falta d’agua pela televisão, tive pena.

Pena de quem precisava tomar banho de canequinha e, antes disso, andar horas e horas para levar à casa um pouco do líquido precioso.

Aquela realidade, a da canequinha para o banho, sempre foi muito distante para mim.

Passei minha infância tomando banho da água que desfila pela mangueira em dias de calor intenso.

Procurando motivo para ajuntar os amigos e brincar com a água que saia da torneira, a que juntava em qualquer lugar, a que passava por nós de maneira despercebida.

Enquanto eu crescia, qualquer coisa era motivo para um banho, um longo e despreocupado banho.

Nunca deixei a torneira escorrer água livremente.

Desse mal eu nunca sofri.

Mas eu dispensava a água da garrinha por não estar gelada e nunca fechava o chuveiro ao me ensaboar.

A água sempre esteve presente nos momentos festivos.

Tudo isso fiz aqui em Brasília, que sofre hoje a pior seca de sua história.

A coisa está tão preocupante que semana passada vi um anúncio da companhia de água falando que cobrará taxa extra, que, se não chover, começará um rodízio de distribuição de água.

Por isso, pela falta que hoje existe, acabaram-se os longos banhos, a garagem tem dia e água certos para que sua poeira seja retirada, a água que não é bebida e esquenta agora rega e inúmeras outras providências são tomadas dia a dia.

Pequenas mudanças de hábito.

Cuidados para que o pouco não fique raro.

Faz-se necessário uma nova postura, novos cuidados.

O mundo hoje, com tantos novos habitantes e com a falta de preocupação de antigos e novatos, oferece menos do que antes superabundava.

Novas atitudes para que o banho de canequinha não se oficialize por aqui.

Para que o medo não se transforme em realidade.

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