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O SER Professor

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Fazer uma reflexão histórica sobre a construção de uma possível identidade do profissional da educação brasileira, é na verdade uma ação que vai trazer ao seu proponente um imenso dissabor. O nosso profissional da educação em nenhum momento se constituiu num SER perceptível dentro do todo social, onde pudesse de alguma maneira estar desassociado ao exercício de outras funções ou condições sociais, sejam estas impostas pela sociedade ou arquitetadas pelo próprio pseudo-professor. Quero dizer aqui que o professor nunca se definiu, se mostrou, enfim não se constituiu naquilo que sua função social desde sempre o exigiu. Nos tempos em que se falam da escola com um tenro saudosismo, eram padres, médicos, juízes, farmacêuticos, e tantos outros que faziam as vezes dos professores, e como o passado sempre parece ser menos trágico que o presente, ditavam as regras e faziam do magistério um lugar-comum cheio de conceitos e pré-conceitos. Hoje que buscamos o corporativismo tão difundido em outras profissões e salutar para uma classe com identidade, o que encontramos é o professor de licença médica porque não agüenta a sala de aula, estudando pra concurso de outra área, que está no magistério por que foi o que mais fácil encontrou pra enrolar, assim está o nosso magistério. Na verdade diante de um saudosismo dantesco e de um presente ignóbil, não nos sobra muitas opções. Em meio a isso perguntamo-nos: Quem é o Professor? Qual é o SER do Professor? O que faz este SER diferente dos demais entes sociais? As respostas a estas perguntas perpassam necessariamente por uma série de contradições históricas do nosso país, a saber, na educação, na economia, na política, onde tais contradições abriram abismos sociais que mesmo os mais otimistas admitem que transpô-los demandará além de tempo uma enorme vontade política.
 
A educação independente de ser vista seja como Eldorado, seja como panacéia pelos muitos tecnocratas que gerenciam e contaminam as estruturas de poder socialmente constituídas, tem na figura do professor aquele que em sua imensa maioria não acredita que o viés educacional possa constituir-se no mais importante elemento, porém não único, para um novo arranjo social que possibilite maior justiça social, cultural e econômica. A História nos desvela este câncer, mas nos faz entrever também um pequeno grupo de idealistas que sustentam o arcabouço educacional brasileiro e ainda trabalham como um vírus na tentativa de contaminar um organismo forte, para fazer aparecer doenças como a honestidade, a moralidade, a autonomia intelectual, a alteridade, a liberdade de pensamento e ação.
 
Este SER do professor parece que só tem significado no movimento, na ação contínua do fazer pedagógico, no enfrentamento de todas as dificuldades que o desencorajam de ser professor. Ainda assim para alguns, mesmo que sejam poucos, o exercício do magistério é o limiar entre a possibilidade inóspita de atenuar os conflitos sociais e o extra-ordinário campo de realizações em vidas que se constroem diariamente. Este é o encantamento insensato, mas profundamente indispensável para o erigir de uma sociedade menos injusta.
 
 
Adriano Souza Santos
Professor de Filosofia

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745