redacao@jornaldosudoeste.com

O silêncio que acolhe. Ou não.

Publicado em

O silêncio acolhe.

Quem por ele se deixa envolver consegue ouvir a si mesmo.

Mas quem consegue, onde se consegue ouvir o silêncio?

Absoluto, pleno, não sei onde o encontrar.

Quando o sol vai indo embora de mansinho, o ritmo lá fora diminui lentamente.

Como quem não quer nada, esse, depois aquele, vai deixando para trás a rua e entrando em seu pequeno ninho à procura do sossego, do silêncio.

Dificilmente o encontram.

 Afinal, é no ninho que são feitos os deveres escolares, roupas são lavadas e passadas, bolos batidos e assados, comidas são feitas, chão esfregado.

No ninho, longe dos holofotes, de coque e pé no chão, é onde tudo toma forma.

Lá, os sonhos e ideias são verbalizados pela primeira vez.

Em seu lugar mais íntimo, as pessoas revelam o que, na verdade, são. Quem, na verdade, são.

Na intimidade de seus ninhos, é que se amam, cuidam uma da outra, contam histórias, dão risadas, choram.

No escondidinho, onde quase ninguém vê, é que se desentendem, xingam, brigam, dão “piti”.

Vivem.

E viver é algo barulhento.

Extremamente barulhento.

Depois de horas no ninho, quando os deveres escolares foram terminados, as roupas estão em seu devido lugar, a metade do bolo já foi comida, estão de barriga cheia, quando o chão está brilhando, todos já tomaram banho, escovaram os dentes, fizeram xixi e suas orações, parece que, enfim, o silêncio começa a tomar forma.

Ele vai se concretizando a cada porta que se fecha, luz que se apaga, a cada resposta de um “boa noite”.

Vai tomando forma devagarinho quando a fala transforma-se em sussurro e tudo o mais que faz barulho dá o prazer da ausência, de mansinho.

Lá fora, o ritmo também diminuiu e, então, poucos carros deslizam lentamente, somente um ou outro, mais alegre ou desesperado, grita no meio da noite.

Os elevadores diminuem seu ritmo e apenas os eletrodomésticos conversam entre si.

Silêncio.

Ele está chegando!

Quando há muito o sol se foi, o silêncio finalmente toma conta do ambiente.

Envolvido por ele e pela escuridão que o acompanha, é possível ouvir o que diz o coração.

Reconhecer os sonhos, os pensamentos mais secretos.

E, no silêncio, longe da luz do sol e das pessoas desesperadas, é possível vaguear entre o que se pode, o que se tem e o que, de fato, se quer ser.

Tendo o silêncio como companhia, decisões são tomadas, lágrimas são derramadas e o perdão é solidificado.

O silêncio tem o poder de deixar mais calmo o coração, as ideias…

Ou não.

Não sei o que ele faz com você.

Vai ver isso tudo que falei não faz o menor sentido para sua pessoa.

Sabe-se lá o que interrompe o silêncio, aí, na sua cabecinha.

Se a bagunça, a farra e confusão suas forem muito grandes, deve dar até medo de parar e escutar.

Por isso, esqueça essa história de silêncio acolhedor, reconfortante.

Se não faz sentido para você, deixe isso pra lá.

Eu desejo que você tenha paz.

Sem fórmula, ao meio dia, no meio do engarrafamento e da confusão que é essa vida.

Quando a noite chegar e os barulhos se forem, desejo que, aí dentro do seu coração, você tenha paz.

Desejo que ela seja sua companheira em qualquer lugar, ouvido qualquer som, sob qualquer luz ou ausência dela.

E, com ela ao seu lado, que seja feliz.

Muito feliz!

Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br

 

 

 

1 comentário em “O silêncio que acolhe. Ou não.”

Deixe um comentário