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O terceiro coração

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Eles não se lembravam da primeira vez em que abriram os olhos e viram o outro ao lado.

Na verdade parece que sempre fora assim. Por isso mesmo, nunca tinham parado pra pensar que havia outro jeito de ser.

Ali mesmo, todas as manhãs, começavam o dia como se fosse simplesmente mais um  como sempre fora.

Acorda, levanta, estica, lava, escova, bate e rua.

A rotina se repete a cada nascer do sol.

Horas depois de que o astro se vai, eles se encontram.

Logo depois de sua chegada, a rotina se repete.

Sol vai, sol vem e tudo igual.

Não! Não pode existir outro jeito de ser.

De quando em vez, uma ou outra roupa diminui drasticamente.

Com os sapatos também acontece esse fenômeno.

Eles não estranham. Afinal, não sabiam quando isso acontecera na primeira vez.

 Ao se encontrarem no espaço que era comum, na velocidade da diminuição das roupas e sapatos, os conflitos também encolhiam.

O tempo em que discutiam ideias e ideais, contavam e ouviam seguia o exemplo das roupas, diminuía.

Até que um dia, entre eles, começou a bater um terceiro coração.

Tum tum, longe.

Tum tum, um pouco mais longe.

Os silêncios que antes eram pausas para a respiração tornavam-se mais longos.

Ausências.

O tempo que não para levou o terceiro coração.

Tudo voltou ao normal.

Com o tempo virava e mexia um terceiro coração se instalava.

De quando em vez, eram quatro corações que batiam descompassadamente.

Até que um dia um veio e se instalou:

“Dessa vez não irá passar.” Informou.

Dali em diante tudo mudou.

Comportamento.

Prioridades.

Sonhos.

O coração que antes batia no compasso do seu companheiro desde sempre agora pululava ao ritmo do terceiro.

E assim foi.

Até que um dia:

“Vou me mudar.”

E depois da celebração, festa e congratulações lá foi ele, feliz, contente, radiante e sorridente habitar em outro lugar.

Quem pensou que nunca haveria mudanças se despedaçou.

Chorou.

Sofreu.

Sarou.

Às vezes, se pensa que nada nunca vai mudar.

Mentira.

Mudanças vêm e se faz necessário remodelar o que um dia foi.

Adaptar-se e continuar.

Pois, quando um encontra o terceiro coração e é feliz com ele, todos se alegram juntos.

Pode não ser automático, mas a felicidade do companheiro, desde sempre, vem!

Certeza de que vem!

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744