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O vandalismo e suas misteriosas prevaricações

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O estresse político brasileiro é um corruptor de consciências. Multidões abandonam aquelas noções básicas de certo e errado que introduzem o senso moral e que toda criança sob cuidados familiares ouviu dos adultos: “Não faças aos outros o que não gostarias que fizessem contigo”; “Tua liberdade vai até onde começa a liberdade do outro”; “Evita as más companhias”, etc.

Não obstante a obviedade destes marcos morais, milhões aceitam o abuso do poder exercido contra quem pensa diferente, a injustiça praticada contra o adversário, aplaudem personagens que não seriam convidados para jantar com a família de quem aplaude. E por aí vai a luz da razão cedendo lugar à cegueira da paixão.

Álvaro Moreyra, poeta porto-alegrense que foi membro da Academia Brasileira de Letras, escreveu em “Lembranças… as amargas não” que “no fim somos biblioteca de nós mesmos, nosso próprio repertório”. Haveria menos imbecis e menos canalhas se todos estivéssemos atentos a isso.

Como escrevi enquanto os fatos aconteciam, na tarde do domingo dia 8, aquelas aberrações que ferem toda consciência bem formada beneficiavam exclusivamente o governo. Agora é possível explicitá-lo claramente pela conduta dos diversos atores. A ingenuidade da imensa maioria dos manifestantes, o desatino de alguns e a infiltração de outros deram suporte ao discurso sobre golpismo, reforçaram o palavrório de Lula no exterior, criaram a organização que faltava à sanha punitiva do ministro Alexandre de Moraes, fortaleceram a candidatura do omisso senador Rodrigo Pacheco à presidência do Senado e reduziram as bancadas de oposição nas duas casas do Congresso Nacional. Impossível apresentar à nação, ao vivo e a cores, algo com tamanho poder de favorecer o governo e causar tanto dano a quem são atribuídas as ações.

É inevitável que essa constatação nos remeta à conhecida frase de Napoleão: “Jamais interrompa seu inimigo quando ele estiver cometendo um erro”.

No calor dos acontecimentos, a base do governo no Senado tratou de pedir uma CPI. Ela foi proposta pela senadora Soraya Thronicke e contou com a habitual dedicação do senador Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso, que logo garantiu já ter asseguradas as 27 assinaturas necessárias. Horas mais tarde, ainda no dia 9, já eram 31 os senadores signatários do requerimento da recém-batizada CPI do Terrorismo. No dia seguinte, a Revista Exame passou a régua e totalizou 41 apoiadores (mais da metade do plenário da Casa). O número deve ter continuado crescendo porque também os senadores da oposição concordavam com ser um dever do parlamento investigar atos criminosos cometidos contra o Legislativo.

Quando a poeira das investigações começou a baixar, soube-se que o governo não estava entusiasmado com a ideia da CPI. Interrogado sobre esse recuo na entrevista que concedeu à Globo News, Lula falou do que já estava sendo feito pelo governo e foi ajudado pela própria apresentadora (coisas do jornalismo independente) que completou por ele: “Porque a gente sabe como as CPIs começam, mas nunca sabe como terminam”. Isso significa, mais explicitamente, que no pluralismo de uma CPI, a luz pode entrar, também, por outras portas e janelas.

O objetivo principal da CPI, além de identificar os responsáveis e os mandantes das condutas criminosas, é saber quais as forças que se conjugaram para que a omissão permitisse os atos de barbárie que horrorizaram o mundo. Por que, raios, quando tantos, com tanto poder, estavam sabendo que “algo” grave estava por acontecer, ninguém se mobilizou para impedir? Quantos prevaricaram? Hoje, passadas duas semanas, a oposição quer a CPI e o governo se desinteressou dela. Por quê?

Para essa pergunta, a jornalista da Globo News teve uma resposta que emprestou ao Lula.

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