Em uma década, o alto índice de massa corporal saltou da 4ª para a 1ª posição no país, superando a desnutrição
Por Carol Pimenta/ Ascom UniFTC
De acordo com o Global Burden of Diseases, Injuries, and Risk Factors Study, a obesidade foi considerada o maior fator de risco no Brasil em 2019. O estudo conduzido por mais de 3.600 cientistas analisou os principais fatores que afetam a qualidade de vida das pessoas em mais de 200 territórios.
O resultado não surpreende médicos e cientistas brasileiros, visto que a quantidade de pessoas obesas no país só aumentou com o passar dos anos. A Pesquisa Nacional de Saúde mais recente, realizada pelo IBGE e pelo Ministério da Saúde, confirmou que 60,3% da população adulta do Brasil estava com excesso de peso, o que corresponde a cerca de 96 milhões de pessoas. Entre 2002 e 2003, esse percentual era de 43,3%.
Atualmente, a obesidade é considerada um problema de saúde pública, e costuma estar associada a várias enfermidades, “tais como o diabetes Mellitus tipo II, a hipertensão arterial, artrose, doenças respiratórias, doenças hepáticas, neoplasias, entre outras doenças como as coronárias e as relacionadas ao sistema circulatório”, lista a professora do curso de Nutrição da UniFTC, Adriana da Silva Miranda. Tais patologias comprometem não só o bem-estar do indivíduo, mas também a realização de suas atividades cotidianas.
Segundo a psicóloga Deisilane Lima Santos Gil, também professora da rede UniFTC, a obesidade ainda está associada aos transtornos de humor, como depressão, ansiedade e compulsão alimentar. Além de aumentar a incidência desses distúrbios, a professora afirma que a obesidade também pode ser desenvolvida por eles.
Dessa forma, identificar a causa do aumento excessivo de peso é essencial para afastar as comorbidades e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. E essa não é uma missão tão simples quanto parece! Professora Adriana destaca que “o sobrepeso e a obesidade tem causas multifatoriais e resultam de uma complexa interação de fatores alimentares, predisposição genética e comportamento humano”. A Professora do curso de Nutrição Catarina Paula Ikuta de Souza também inclui aspectos genéticos, socioeconômicos, psicossociais e culturais como os possíveis causadores do sobrepeso.
Logo, a reeducação alimentar não é o único caminho. O tratamento precisa contar com uma equipe multiprofissional. “O foco não tem que ser a obesidade, mas a pessoa como um todo: saúde física e emocional, sua relação familiar, sua relação com a sociedade e como ela se percebe nesse meio, pois a obesidade também está relacionada aos hábitos de vida, níveis de estresse e saúde emocional – tudo isso pode interferir na transformação do modo de viver da pessoa”, explica Deisilane.
Foi assim, com o acompanhamento de muitos profissionais, e com muita determinação, que Maria Luiza Alves de Lima conseguiu eliminar 65 quilos. Malu chegou à Clínica Escola de Medicina da UniFTC, em Salvador, com gordura no fígado, colesterol alto, problema cardíaco, dificuldade para andar e outros transtornos.
Após vários exames, avaliações médicas e meses de tratamento, a cirurgia bariátrica foi sugerida a ela. Mas o sucesso do tratamento se deve, em grande parte, ao foco e comprometimento da paciente: “Minha vida mudou muito. Meu fígado voltou ao normal com 45 dias. Colesterol regularizou em 3 meses, e o açúcar também. Tudo de doença foi embora. Mas também abri mão das guloseimas e de qualquer tipo de bebida”, explica. Malu desabafa: “Ser uma bariátrica não é fácil. Requer muito esforço e acompanhamento com bons profissionais da saúde. Renasci e falo: qualquer pessoa pode renascer, desde que procure ajuda de profissionais capacitados”.
Gordofobia – Realmente, o desafio é grande. E se torna ainda maior para pacientes que enfrentam gordofobia e bullying. Uma publicação científica da Revista Nature Medicine constatou que o preconceito contra a obesidade, além de comprometer a saúde, dificulta o acesso ao mercado de trabalho e afeta as relações sociais. Para a psicóloga Deisilane, a melhor maneira de lidar com a situação é investindo em autoconhecimento e auto valorização. “Adotar uma melhor imagem de si, enxergar os pontos positivos e elaborar estratégias para novas possibilidades de vida. Aceitar o que está acontecendo no presente ajuda a pessoa a reconhecer seus pontos limitantes e suas potencialidades e trabalhar todos eles”, explica.
Esse processo, infelizmente, ainda vai ser doloroso para muitos pacientes. É necessário um empenho coletivo grande para que a sociedade como um todo se conscientize e mude posturas estruturais. E há ainda outro agravante: de acordo com uma projeção da Organização Mundial da Saúde (OMS), 700 milhões de pessoas estarão obesas em 2025. O alerta tem o intuito de promover políticas públicas preventivas.
Para a professora Catarina, as gerações mais novas merecem uma atenção maior nesse sentido. Ela aposta na promoção da educação nutricional no âmbito escolar. “Uma vez que é nessa faixa etária (infância) que são formados os hábitos alimentares que perduram por toda a vida. Crianças com hábitos alimentares inadequados tendem a ganhar peso de forma excessiva e, consequentemente, se tornarem adultos obesos”, defende.
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