Se existe uma tarefa complicada esta tarefa é ser técnico de futebol no Brasil. Depois do juiz e do VAR, é a pessoa mais xingada em campo, claro que existem as reverências e o reconhecimento, mas bastou um resultado negativo para que tudo se desmanche como um castelo de areia levado pelas ondas. Não é nada fácil, contudo, histórias de sucesso não faltam. Contar estas histórias é como se ganhássemos um bônus dos torcedores felizes por conhecê-las.
Treinadores são pessoas como quaisquer outras? Claro que sim, mas só quando não estão trabalhando. No trabalho assumem traços potencializados de suas personalidades. Há aqueles que carregam seus times no colo, verdadeiros pais, outros agem com fúria, são agressivos, intempestivos, passionais. Há os calmos, os supersticiosos, e mesmo entre os estrategistas por excelência, há os que são adeptos de uma boa cavalaria e outros de uma impenetrável retranca. E acreditem, independentemente de suas características emocionais e técnicas, são todos vencedores.
Conforme relatado neste site, a história e o próprio Santos Futebol Clube deveriam reverenciá-lo todos os dias. Luís Alonso Pérez, o Lula, é simplesmente o segundo maior vencedor do mundo, só perde para Alex Ferguson, a lenda inglesa que, à frente do Manchester United, ganhou quarenta e nove títulos. Lula no comando do esquadrão santista dos anos 1960, conquistou trinta e oito taças. Foram campeonatos regionais, nacionais, sul-americanos e mundiais, além de torneios mundo afora. Ah, aquele time tinha Pelé! Sim aquele time tinha Pelé, mas tinha Coutinho, Pepe, Mengálvio, Dorval, Formiga, Gilmar, um elenco mentalmente muito forte que se perderiam não fosse um comandante capaz de assimilar cada característica individual e agrupá-las sob sua regência. Lula deveria ter uma estátua na Vila Belmiro.
Luiz Felipe Scolari é ídolo no Palmeiras e no Grêmio, clubes nos quais fez história. Mas não foi apenas a frente destas agremiações que Scolari ganhou notoriedade. Pela seleção brasileira foi o comandante na conquista do penta mundial, em 2002. Aquele selecionado ficou conhecido como “família Scolari”. Ao longo da carreira, Scolari já ganhou vinte e sete títulos e continua em atividade.
O carioca Vanderlei Luxemburgo é um dos mais vitoriosos treinadores no Brasil. São vinte e seis conquistas. Sua carreira como técnico teve início em 1989, quando esteve à frente do Bragantino. Naquele ano, entrou no radar dos grandes clubes brasileiros, dada a campanha realizada. No Brasil, ganhou títulos por onde passou, mas sua identificação como Palmeiras foi latente. No clube paulistano conquistou o bicampeonato brasileiro de 1993/1994, além de cinco canecos regionais. Treinou o Real Madrid em 2005, mas não obteve sucesso no clube madrilenho.
Mesmo sem ter ganho a copa do mundo de 1982, Telê Santana é considerado o maior treinador da seleção de todos os tempos. O futebol vistoso, técnica e plasticamente falando, praticado por seus comandados, encantou o mundo. Liderando diversos clubes no Brasil e no exterior, Telê se saiu vitorioso vinte e duas vezes, destacando-se pelo São Paulo, clube no qual foi campeão brasileiro, bicampeão sul-americano e bi mundial (1992/1993). Em 1992 e 1993, foi eleito o melhor técnico do mundo. Telê fazia questão de jogar com beleza, elegância e disciplina tática, além de ser extremamente rigoroso com relação ao fairplay, tanto que como jogador foi homenageado com o Prêmio Belfort Duarte por permanecer mais de dez anos sem uma única expulsão. Deixou saudades.
Osvaldo Brandão foi treinador de futebol por mais de quarenta anos. Passou por todos os grandes clubes do futebol paulista, ganhando títulos por todos eles. Muito embora sua identificação com o Corinthians – treinava o clube na conquista do Paulista do quarto centenário, em 1954 – nunca tenha sido ocultada, Brandão é daquela estirpe que extrapola as fronteiras da agremiação e é reverenciado por onde chega. Treinou a seleção brasileira entre 1975 e 1976, conquistando neste período o Torneio Bicentenário da Independência, em 1976. Foram quinze títulos conquistados e um número incalculável de admiradores.
O paulistano Muricy Ramalho é um dos mais vitoriosos treinadores que o Brasil já viu. Discípulo declarado do mestre Telê, Muricy conquistou em pouco mais de vinte anos como técnico, dezesseis títulos. Pelo São Paulo, onde é coordenador técnico atualmente, foi tricampeão brasileiro nas campanhas de 2006, 2007 e 2008. Foi campeão brasileiro também pelo Fluminense, em 2010. Pelo Santos, foi campeão da Libertadores em 2011, liderando com sabedoria a equipe que tinha, à época, talentos como Neymar e Paulo Henrique Ganso. Por cinco vezes – 2005, 2006, 2007, 2008 e 2010 – foi eleito o melhor treinador brasileiro. Da sua lavra, a frase “a bola pune”, entro para a história.
Claro que muitos outros técnicos ganharam muitos títulos ou se notabilizaram pelas carreiras folclóricas, mas um deve ser citado em qualquer enquete e apontado como um dos mais brilhantes, Mário Jorge Lobo Zagalo, inegavelmente, uma lenda. O tri mundial em 1970, como técnico, o tetra em 1994, como auxiliar e a célebre frase “vocês vão ter que me engolir”, o coroam como o velho Lobo.
Pois bem, haverá outros em um futuro próximo que em quantidade de títulos possam até desbancar estes aqui elencados, mas creio que seja bem difícil destroná-los no quesito carisma.