Toda vez que o Brasil aceita placidamente como institucional e sério um evento patético, ato contínuo assistimos à barbárie. É o preço por tratar com tamanho desprestígio os pilares democráticos. A grande questão é: será a República capaz de suportar mais vilipêndios ou a cúpula palaciana esticou em demasia a corda, rompendo-a perigosamente? A resposta, ao que tudo indica, virá nos próximos dias, encerrando o difícil e dramático ano de 2016.
Impressiona a covardia e desvergonha exibida pela atual triarquia do poder. A semana começou com uma nauseabunda entrevista convocada pelo Palácio do Planalto onde o presidente Michel Temer, acossado pelo escândalo “la vue” do Geddel, assume com a nação o compromisso de vetar qualquer tentativa de anistia ao crime de caixa dois, fazendo-se ladear por dois fiadores: Renan Calheiros e Rodrigo Maia.
Foi evento patético vendido como ato institucional de primeira grandeza e seriedade. Michel, Renan e Rodrigo eram o retrato fiel dos farsescos Três Patetas. Neste caso, os três patetas da República Federativa do Brasil.
Quem comprou a farsa, dançou! Dois dias depois, capitaneada por Maia e aproveitando asquerosamente o momento de comoção nacional com a tragédia que vitimou a equipe da Chapecoense, a expressiva maioria dos deputados federais cuspiu na cara de quase três milhões de cidadãos brasileiros signatários das 10 medidas contra a corrupção, adulterando com safadeza o Projeto de Lei de tal forma a transformá-lo num verdadeiro salvo-conduto para as quadrilhas planaltinas e congêneres. Uma gatunagem imunda costurada no silêncio sombrio da madrugada, algo próprio e adequado aos bandidos.
Não bastasse o descalabro, o projeto foi imediatamente remetido ao Senado Federal. Apenas doze horas após vergonhosa aprovação na Câmara e agora sob a batuta do encrencado Renan, tentou-se o golpe fatal: votá-lo em regime de urgência, aniquilando em definitivo a Operação Lava-Jato e salvando a pele de pilantras que não merecem qualquer mínima deferência.
O golpe só não logrou êxito porque, em amplo volume na sociedade, a presidente do Supremo Tribunal Federal, o procurador-geral da República, o Ministério Público Federal, associações de magistrados e, principalmente, as redes sociais fizeram ecoar veemente repúdio contra a aberração em curso no Parlamento brasileiro.
Que ninguém se engane: toda essa barbárie, pelega e covarde, protagonizada nas dependências da Câmara e do Senado, foi gestada nas entranhas do Palácio do Planalto. Não por acaso, logo após o Brasil conseguir frear o tropel desembestado à beira do abismo, os três patetas da República foram “confraternizar” na residência oficial de outro senador, que mesmo atolado nas investigações da Lava-Jato, já é tratado como herdeiro presuntivo da cadeira de Renan.
Os três patetas erraram a mão. Subestimaram a capacidade de insurreição do Povo brasileiro. A tolerância com esse tipo de maracutaia acabou. Diante de uma sociedade perigosamente conflagrada, é grande a possibilidade dessa história não terminar bem. Cumpre reiterar, pode ser o preço por tratar com tamanho desprezo os pilares que sustentam a Democracia.