Maurício Stemberg, produtor musical, transforma procedimento médico em apresentação musical para preservar funções cerebrais cruciais
Por Comunicação/ Central Press
O Hospital Universitário Cajuru, localizado em Curitiba (PR), se tornou o cenário incomum de uma cirurgia cerebral carregada de melodia e determinação. Durante uma intervenção para a retirada de um tumor cerebral, o paciente Maurício Stemberg, de 55 anos, entoou acordes de violão e soltou sua voz, garantindo que áreas vitais do cérebro permanecessem ilesas. De músicas autorais a clássicos da Alcione, a sala de cirurgia se encheu de uma sinfonia de esperança rumo à recuperação completa. “A música me fortalece para enfrentar qualquer obstáculo, e poder tocar durante a cirurgia trouxe um novo significado à minha jornada”, compartilha Maurício, emocionado.
“Os primeiros sintomas foram confundidos com cansaço, até que convulsões e desmaios acenderam o sinal de alerta e me trouxeram ao hospital”, relembra Maurício. Poucas semanas após o diagnóstico, ele passou pela cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No dia 26 de julho, o produtor musical enfrentou um procedimento de cerca de 7 horas, metade das quais ele passou acordado. No entanto, o que poderia ter sido motivo de apreensão se transformou em uma oportunidade para se conectar ainda mais com a música. “Após tudo isso, entendi que Deus realmente escreve certo por linhas tortas. Hoje, sem sequelas, sinto uma gratidão imensa pelo cuidado médico e pelo atendimento do hospital”, completa Maurício.
A cirurgia com o paciente acordado
O neurocirurgião Carlos Alberto Mattozo liderou a cirurgia e explica que, em casos como o de Maurício, a complexidade reside na localização do tumor, que afeta diretamente as funções da linguagem. Como Maurício trabalha com música diariamente, executar ações relacionadas à sua rotina se mostrou crucial para preservar essas habilidades. “Assim que o paciente soube da necessidade da cirurgia cerebral, preocupou-se com o impacto que isso teria em suas habilidades musicais. Essa preocupação nos levou a realizar o procedimento com Maurício tocando violão”, relata o médico.
Inicialmente, o paciente é sedado e dorme durante as primeiras etapas da cirurgia, incluindo a neuronavegação, uma técnica que usa um sistema computadorizado e luz infravermelha para guiar a localização intraoperatória, além da abertura do crânio. Após essas fases, a medicação é reduzida e o paciente é despertado. A partir desse ponto, ele pode responder às perguntas do médico e realizar ações como tocar, cantar e conversar. “Geralmente, o paciente é acordado durante a cirurgia para avaliar possíveis alterações ou lesões neurológicas”, esclarece o médico do Hospital Universitário Cajuru.
A paixão pela música
“Maurício é a música personificada. Ao olhar para ele, vejo uma nota musical”, diz Sonia Stemberg, esposa do paciente, explicando a tranquilidade de Maurício ao tocar e cantar durante a cirurgia. Filho de um cantor, Maurício aprendeu a tocar violão aos 7 anos e logo descobriu seu talento vocal. “Ele sempre acreditou que a música tem o poder de transformação, e agora, essa mesma música se tornou uma aliada importante”, declara Sonia, com orgulho.
A junção de medicina e arte não apenas demonstrou a determinação do paciente em enfrentar o desafio de saúde, mas também destacou a importância de uma abordagem humanizada. Médicos, enfermeiros e outros profissionais se reuniram para testemunhar esse momento único. “A participação ativa do paciente preencheu o silêncio da sala de cirurgia com música. Foi uma experiência emocionante acompanhar essa sinfonia: a cirurgia em andamento e o paciente realizando um verdadeiro espetáculo”, compartilha Daniele Alves, técnica de enfermagem que auxiliou durante a cirurgia de Maurício.
Menos de 48 horas após a cirurgia, Maurício deixou o hospital com seu violão em mãos e pronto para novos começos. De olho no futuro, ele se prepara para voltar aos palcos com a banda Midnight Blues e continuar compartilhando suas composições autorais. “A música sempre foi minha terapia e minha maneira de expressar sentimentos. Agora, ela também se torna uma ferramenta de cura, e estou ansioso para levá-la ao mundo de uma maneira completamente nova”, conclui Maurício com um sorriso confiante.
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