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Padre Gabriel – prefácio do livro

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Fui convidado a escrever o prefácio do livro que reúne cartas do Padre Gabriel Maire, endereçadas a amigos, companheiros de ideal e instituições diversas, principalmente da França, país onde Gabriel nasceu e de onde veio para sua missão no Terceiro Mundo.
Nas cartas (uma por mês), o sacerdote relata sua vida e seu trabalho em Vitória. Na verdade não se tratava apenas da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, mas sim da Grande Vitória, que abrange municípios vizinhos. Foi na periferia de Vitória, nos bairros pobres, que Gabriel anunciou o Reino de Justiça e foi no território da periferia que ele foi assassinado.
Reunidas em livro, as cartas, datadas e temporais, assumem a feição de documentos fora do domínio do tempo, perpétuas, destinadas ao escaninho da História.
A meu ver podemos destacar um tríplice legado na vida do Padre Gabriel: o legado teológico, o político e o humanista.  Há uma conexão entre esses três ângulos. Nós os distinguimos apenas para efeito de análise.
No aspecto teológico, creio que o sacerdócio de Gabriel caracterizou-se pelo compromisso radical.  Essa radicalidade é bem visível na frase que pronunciou quando começou a receber ameaças de que seria assassinado: “Prefiro morrer pela Vida a viver pela morte.”
No ângulo político, a lição fundamental de Gaby é o universalismo da missão evangélica. Gabriel abandonou o conforto de uma vida estável na França para dedicar-se ao povo mais humilde e sofrido, na periferia da Grande Vitória.  Veio com opção feita: a opção pelos pobres e a consequente inserção nas Comunidades Eclesiais de Base.  Abraçou o sentido universal da caridade, a ideia de que o Amor não tem fronteiras.
Lembro-me da manhã em que os despejados de Rosa da Penha, abrigados na Catedral de Vitória, deixavam aquele templo em direção às terras que o Governo destinara a eles. Vi com meus olhos o espanto do Padre Gabriel, recém chegado da França, diante de tudo aquilo. Testemunhei o instante em que Gabriel subiu num dos caminhões, junto com os despejados, para aquela viagem de esperança, pois que um novo bairro popular surgiria.
O terceiro legado de Gabriel Maire foi o humanismo.  O humanismo como essência da vida.  O humanismo que se debruça diante do outro porque o outro é ser humano.  O humanismo que não vê poder, que não distingue riqueza, que não discrimina ninguém porque o próximo é sempre o irmão.  O humanismo que fazia de Gaby uma pessoa doce, afável, solidária, humilde, alegre, sorridente, feliz. 
Parabéns a todos aqueles que tornaram possível a edição deste livro. Que ato de Justiça à memória de Gabriel! Que lição de Teologia encarnada, tão importante num tempo em que circula por toda parte uma falsa teologia, que olha para as nuvens e não tem compromisso com a transformação do mundo.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744