Em entrevista exclusiva ao portal Brasil61.com, o cientista político Newton Marques falou a respeito das eleições municipais e os impactos do pleito na vida das cidades
Por Janary Bastos Damacena – Agência Brasil 61
O resultado das eleições de 2020 é um movimento importante para o xadrez político em âmbito federal, onde se posicionam os cargos mais elevados na hierarquia nacional como senadores, deputados federais e presidente da República. No pleito deste ano, sairão eleitos a força motriz da população que está na ponta, lá nos municípios, do menor ao maior deles e onde, muitas vezes, a figura da União é apenas uma presença etérea da qual se tem conhecimento mas não vê fisicamente como a de um prefeito que aperta sua mão.
Em entrevista exclusiva ao portal Brasil61.com, o cientista político Newton Marques, falou a respeito das eleições municipais e os impactos do pleito na vida das cidades. Segundo o cientista político, existem duas formas de avaliar o resultado das eleições.
“Podemos fazer alguma consideração: a de que os candidatos ao Governo Federal foram os maiores perdedores, assim como os outros partidos que já governaram o Brasil como o PT e o PSDB. Quem ganhou foi o chamado “Centrão”, pois os partidos que se mantiveram mais ao centro foram os que conseguiram sucesso na maior parte dos municípios”, explicou.
Mas se considerarmos apenas os grandes municípios “ou os mais relevantes dos estados, então temos um outro tipo de análise. Com olhar atento ao Sudeste, Sul e Nordeste, temos candidatos simpatizantes ao governo Bolsonaro mas sem demonstrar muito essa aproximação”, continuou.
Sobre a pandemia causada pela Covid-19 e a forma como ela impactou nas urnas, Newton Marques diz acreditar que “tudo o que nós vivemos nesse ano refletiu diretamente nas urnas, principalmente como as figuras políticas se comportaram diante da pandemia, a atuação do Congresso Nacional, como a economia foi gerida. Tudo isso acaba batendo nas eleições locais, nos municípios” destacou.
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mais de 147 milhões de eleitores estavam aptos a participar das Eleições Municipais de 2020, mas o próprio órgão reconhece que houve um número expressivo de pessoas que deixaram de comparecer às urnas. Para Newton Marques, esses números se devem principalmente à Covid-19.
“Pelo número de votos em branco e nulo, nós podemos fazer uma análise de que o eleitorado não concordou com os candidatos, pois geralmente o brasileiro tem boa participação nas votações. Acho que a Covid-19 foi importante para abstenção com baixo número de comparecimento, a doença assustou os eleitores”, afirmou.
Para o cientista político existe uma forma simples de avaliar esse alto número de abstenção, que é verificar os votos. “Se você somar os votos brancos, nulos e abstenções vai chegar a um número elevado. Se pegarmos apenas os votos brancos e nulos podemos dizer que existe um desinteresse no eleitorado, mas quando pegamos apenas a quantidade de abstenções aí vemos que foi a Covid-19 que afastou o eleitor da aglomeração. As pessoas estão com medo”, resumiu.
Dados do TSE apontam que as mulheres representarem mais de 51% da população e mais de 52% do eleitorado brasileiro, mas ainda são minoria na política. Para Newton Marques, apesar de ainda termos baixo número de mulheres e outros grupos sociais nos mandatos “a representatividade nas eleições está indo bem. Tivemos candidatos eleitos com bandeiras contra as discriminações raciais, de gênero e a favor da homoafetividade. Eleição é isso, não é fácil como algumas pessoas podem achar, principalmente nas capitais do País”, comentou.
O cientista político ainda continuou afirmando que “ao mesmo tempo em que existe a parte política mais preconceituosa, misógina e sexista, muitas pessoas contrárias a esse pensamento têm disputado cargos políticos e as eleições nos mostraram que esses cidadãos contam com o apoio de grande parte da população”, ressaltou.
Quando perguntado sobre a eficácia do sistema de votação no Brasil, a urna eletrônica, ou se o retorno do voto impresso é uma pauta interessante, o cientista político afirmou acreditar que “a urna eletrônica veio para ficar e não retornaremos ao voto pela cédula de papel. A tecnologia tem ajudado nos processos eleitorais e é possível manter uma supervisão e diversos cuidados para que se possa evitar as fraudes. Isso não é motivo suficiente para desacreditar nas urnas eletrônicas”, finalizou.