Por: Adriane Schultz
No último domingo (30), Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito o novo presidente do Brasil com 50,90% dos votos contra o percentual de 49,10% de Bolsonaro. Após o resultado, caminhoneiros bolsonaristas iniciaram paralisações em todo o Brasil em manifestação contra o resultado das urnas. De acordo com dados da PRF, até 11h da manhã de terça (1), havia pelo menos 271 pontos com vias federais obstruídas em 19 estados e no Distrito Federal. Até o momento, o presidente derrotado Jair Bolsonaro ainda não se manifestou reconhecendo a vitória de Lula.
De acordo com Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed, as paralisações de caminhoneiros ainda não fazem preço na bolsa, pois o mercado tem a expectativa de que Bolsonaro se pronuncie a qualquer momento, o que poderia acalmar os ânimos e descontinuar o movimento. “Por enquanto o mercado ainda não deu muita importância, digerindo ainda a eleição numa esperança de acabar assim que Bolsonaro fizer um discurso aceitando a vitória de Lula. Mas se as paralisações se estenderem e forem bem organizadas, acredito que vai fazer preço negativamente na bolsa”, afirma.
No dia seguinte ao resultado das eleições, o mercado abriu com baixa no início do dia, mas se recuperou ao longo da segunda-feira e terminou o dia no positivo. Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, o mercado não considerou que a eleição de Lula tenha sido negativa ou um fracasso tão grande e, mesmo com caminhoneiros se manifestando e ausência de fala de Bolsonaro, a bolsa se recuperou em clima mais ameno do que o esperado.
“Se Lula começar a anunciar bons nomes da equipe, isso pode ser positivo para a bolsa. Caso indique Meirelles, a bolsa pode ir para cima. Ainda não tivemos nenhuma fala oficial de Bolsonaro, o que deixa o mercado ansioso e pode gerar volatilidades dependendo do tom”, afirma Cohen.
Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT CAPITAL, acredita que a vitória de Lula traz preocupação ao mercado, já que o PT ainda não repassou nenhuma informação sobre quem serão os ministros que ocuparão a equipe econômica.
“A realidade é que o PT não tem autonomia de maioria tanto no senado quanto de deputados. Então fica um ponto de interrogação grande e isso nos primeiros dias traz um viés pessimista. A oposição que Lula terá nos próximos quatro anos da direita será a maior de todos os tempos. Tanto em estados quanto em Brasília”, comenta.
Para Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, o resultado das urnas mostrou um país dividido, mas que terá que se unir para superar os desafios que aguardam, como inflação alta, hoje controlada em parte pelo combustível subsidiado, juros acima de 2 dígitos, e potencial de recessão nas principais economias do mundo. “Só assim, o Brasil seguirá crescendo enquanto economia e, principalmente, como sociedade”, diz.
Segundo Fabio Louzada, economista, analista CNPI e fundador da Eu me banco, o momento atual é de volatilidade alta e indica aos investidores fazer a diversificação de seus investimentos. “Não é momento de entrar em ações de estatais agora. Saiba ler o cenário econômico. Diversifique sua carteira. Tenha parte da carteira dolarizada para fugir dessas oscilações”, diz.
Para o especialista, o mercado passa por um momento tenso até a escolha do ministro que irá tocar a economia: “Após o anúncio, o mercado pode dar uma acalmada ou piorar, dependendo do nome do ministro e qual a posição dele em relação ao teto de gastos”.
Setores que podem se beneficiar com Lula eleito, de acordo com o analista de investimentos Rodrigo Cohen, são construção, educação, bancos e varejo: “O Lula promove mais crédito para a população, então qualquer setor relacionado a aumento de crédito como construção, educação e varejo saem beneficiados com ele”.