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Parcela extra do FPM pode evitar demissões de prefeituras em Dezembro

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Para especialistas, pesquisa da CNM mostra que gestores municipais precisam rever folha de servidores, mas repasse extra do FPM pode amenizar situação

Por José Roberto Azambuja

Pesquisa divulgada pela CNM (Confederação Nacional de Municípios), a menos de um mês do início de 2024, revelou dados preocupantes para os municípios brasileiros. Segundo a entidade, cerca de 30% das prefeituras do país não vão conseguir fechar as contas esse ano —  e 60% terão que diminuir o número de servidores para fechar as contas no azul. 

De acordo com o consultor de Orçamento César Lima, o pagamento de uma parcela extra do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), em forma de “compensação”, pode ter dado um fôlego a mais aos prefeitos. 

Considerando-se que a pesquisa da CNM foi realizada antes dos repasses da terceira parcela do Fundo (quando a União depositou para os municípios R$ 4,1 bilhões, a mais, no último dia 30 de novembro, totalizando mais de R$ 7 bilhões em forma de repasses de FPM). “Provavelmente, vários desses municípios que iriam fechar a conta no vermelho consigam ajustar suas contas, com esses recursos”, ressalta Lima.

Da mesma forma que Lima, o economista César Bergo também enxerga, na folha de funcionários dos municípios, um fator preocupante: “Os prefeitos deveriam ter a iniciativa de rever as folhas de pagamentos para reduzir essas despesas, mas isso também é muito difícil, a gente sabe disso, e vai demorar”, avalia Bergo.  

O levantamento

A pesquisa da CNM aponta que vários prefeitos tendem a tomar medidas drásticas para tirar as contas públicas do vermelho e fugir da Lei de Responsabilidade Fiscal. Além da demissão de funcionários, há a hipótese de desativar equipamentos, suspender serviços essenciais, deixar veículos oficiais nas garagens e reduzir despesas de custeio. 

Questionados sobre as expectativas para 2024, 2.121 prefeituras (47,6% do total) acreditam na melhoria das finanças para o próximo ano. Outras 2.083 prefeituras (46,7%), informaram que não acreditam em um cenário positivo. A pesquisa identificou ainda que em 119 prefeituras a folha de pagamento não está em dia (ou seja, 2,7%). Sobre o pagamento de fornecedores, 44,2% dos gestores municipais responderam que estão em atraso; outros 53,3% afirmaram que o pagamento dos prestadores de serviço está em dia.

A entidade ouviu representantes de 4.456 prefeituras (80% dos 5.568 municípios do país), entre 25 de outubro e 27 de novembro. A pesquisa identificou que 27,2% dos gestores acreditam que encerrarão o ano no vermelho, ou seja, 1.214 dos entrevistados. 

Possíveis causas da crise

Por outro lado, César Lima entende que a crise foi causada por mais de um fator. “Primeiro, uma queda na arrecadação que vem ao longo do ano de maneira inconstante, com empates [na arrecadação] em relação ao ano passado, mas também com muitas quedas em relação ao ano passado”, avalia o consultor. 

O especialista em Finanças Públicas lembra que foi criada, via Congresso Nacional, uma compensação financeira para trazer fôlego aos gestores municipais, principalmente às cidades mais pobres, cujos prefeitos chegaram a fechar as portas das prefeituras mais de uma vez, ao longo de 2023, em protesto contra o governo e à queda da arrecadação.

“Foi paga [a compensação do FPM] agora, dia 30, e deve aliviar bastante os cofres municipais nesse final de ano. Muito provavelmente pode ser que vários desses municípios que iriam fechar a conta no vermelho consigam ajustar suas contas com esses recursos”, ressalta César Lima. 

Segundo ele, os atuais prefeitos devem se planejar melhor em relação a 2024, principalmente, por se tratar de um ano eleitoral (quando, normalmente, há muita pressão por parte dos funcionários dos municípios em busca de aumentos ou recomposições salariais). “Os prefeitos têm que ter cuidado com essas questões, e administrá-las de forma que isso não comprometa o cofre das prefeituras, que pode gerar – inclusive, por se tratar de um ano eleitoral – sanções, caso não deixe os cofres com os recursos necessários para o pagamento das despesas de início de ano”, alerta o consultor.

A solução não é rápida

Já o economista César Bergo entende que a solução para tirar os municípios “do vermelho” não virá num curto espaço de tempo. Para ele, a baixa atividade econômica da maioria dos municípios os torna dependentes dos repasses da União, que também vem sofrendo com a queda da arrecadação e isso diminui, ainda mais, os repasses de recursos federais.

“A solução vem sendo buscada no Congresso, através de negociação e conscientização de deputados e senadores para que a União possa, de alguma forma, minimizar essas perdas dos municípios. Isso tem sido tentado, mas até o momento, não tem uma solução no curto prazo”, explica o economista, que também é sociólogo e professor de Mercado Financeiro a UnB. 

Da mesma forma que  César Lima, o economista César Bergo também enxerga, na folha de funcionários dos municípios, um fator preocupante: “Os prefeitos deveriam ter a iniciativa de rever as folhas de pagamentos para reduzir essas despesas, mas isso também é muito difícil, a gente sabe disso, e vai demorar”, observa. “De qualquer forma, a tendência para os próximos meses é a arrecadação continuar de alguma forma declinando, e é importante que se busque uma alternativa para que possam viabilizar os municípios que, na sua grande maioria, estão inviáveis”, conclui o especialista.
 

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

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