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Pequenas conquistas

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De um minuto para o outro, tudo mudou.

O que parecia estável e certo, o “para sempre” simplesmente não existe mais.

Foi-se.

Não sei ao certo em que curva do caminho nos perdemos.

Via sinais, indícios, aqui e ali, de que as coisas não iam bem, mas, no momento seguinte, céu azul, pássaros cantando.

Acreditava assim que era apenas mais um desentendimento.

Além do mais, havia amor.

Ele nunca deixou de existir.

Ao menos aqui no meu peito, não.

Mas teve um dia em que os sinais, indícios, aqui e ali, de que as coisas não iam bem vieram com tudo e, no momento seguinte,  nuvens pesadas, tempestade, raios e trovões.

Eu pensei: com a volta do sol, vem o céu azul e pássaros cantando. O astro rei fará com que tudo volte ao normal.

Ledo engano.

A tempestade se instalou de verdade.

Até que um dia recebi a sugestão:

“É melhor você se mudar. Vai ser mais tranquilo para nós dois, para as meninas.”

Como assim?

Mudar?

Para onde?

Essa é a minha casa. Tudo aqui foi metodicamente planejado, sonhado, construído também por mim.

A tempestade se instala e eu tenho de sair?

E nosso amor?

Mudar para onde?

A tempestade e o céu negro que só moravam na relação que até então era meu porto seguro, instalaram-se dentro de mim.

Pedi dois dias para procurar um lugar em que pudesse me instalar.

Em duas horas, havia ajuntado minhas roupas, alguns livros, conversado com minhas filhas e partido.

Saí sem rumo, como se indigente fosse.

Parei e chorei.

Chorei como criança toda a dor e frustração de algo que não queria estar vivendo.

Eu não podia ficar parado no meio da rua simplesmente chorando.

Não o fiz.

Hoje tem quatro meses que esse dia, o mais doloroso da minha existência, ficou para trás.

Assim, ainda não posso dizer que estou pronto para outra.

Ainda não posso dizer que o sol voltou a brilhar, mas está entre nuvens, de quando em vez, ele mostra a cara, todo pimpão.

Esse lugar aqui, onde vim morar, bem no meio da tempestade, já o reconheço como minha casa.

Sei o nome de alguns vizinhos que, assim como eu, estão passando uma temporada entre uma fase e outra da vida.

As coisas estão se acalmando de tal maneira e assumindo uma normalidade que chego a pensar que tudo sempre foi assim.

Quando isso me vem à cabeça me recordo, mesmo sem querer, de tudo que eu tanto amo e não mais existe. Aí, dá aquela vontade gigante de encolher. É nessa hora que me pergunto:

“Encolher pra onde, criatura? Encolhendo vai ter alguém pra te ajudar a esticar?”

Não vai.

Não há ninguém, nem para consolar nem para qualquer outra coisa.

Então, o negócio é não me encolher, não retroceder.

E, como sinal de coragem e desencolhimento hoje, não vou esquecer a toalha na hora do banho e quando deitar para do

Desencolhimento, assim como crescimento, se dá aos poucos, por isso, caminho devagar e com alegria, valorizando cada pequena conquista!

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744