Estudo encomendado para marcar o Dia Mundial da Água (22 de março) mostra que a preocupação com a escassez de água potável aumentou nos últimos anos em todo o mundo, passando de 49%, em 2014, para 61%, em 2022
Por: Landara Lima/Agência Brasil 61
Pesquisa realizada pela consultoria GlobeScan mostra que 81% dos brasileiros estão muito preocupados com a escassez de água potável. O percentual é bem acima da média mundial de 58%. O estudo foi conduzido com 30 mil pessoas em 17 países, em parceria com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) em alusão ao Dia Mundial da Água, celebrado no dia 22 de março.
Segundo o estudo, a preocupação tem motivo: apenas 15% dos entrevistados no Brasil declaram não serem afetados pela falta de água potável e 40% informaram já terem sido prejudicados por secas. Um percentual ainda maior está muito preocupado com a poluição dos rios: 84% dos entrevistados.
Enquanto apenas 5% disseram não serem afetados pelas mudanças do clima, 68% disseram ter sido afetados pela alta do preço dos alimentos causada pelo clima.
O levantamento ainda mostra que a preocupação com a escassez de água potável aumentou nos últimos anos em todo o mundo, passando de 49%, em 2014, para 61%, em 2022, entre os 17 países rastreados de forma consistente.
Aumentou também a preocupação global com as mudanças climáticas (45% em 2014 para 65% em 2022). Segundo o estudo, a mudança climática está fortemente ligada à escassez de água: no total da amostra, de cada dez pessoas que se declararam pessoalmente afetadas pelas mudanças climáticas, quase quatro disseram que experimentaram a seca.
Segundo o diretor-presidente e fundador do Instituto Água Sustentável, Everton Oliveira, a utilização da água no Brasil é feita de maneira equivocada e pode levar a graves problemas pelos próximos anos.
“Nós usamos os recursos de forma insustentável por dois motivos. Um, porque nós usamos os recursos, trocamos ele de lugar, ou seja, eu pego a água de um determinado lugar e não necessariamente eu retorno para o mesmo lugar. E segundo que a gente usa a água e, ainda assim, nós degradamos. A qualidade melhor, da água original, fica piorada. Nós estamos tendo duas frentes, uma em quantidade, ou seja, na sua distribuição e localização, que é insustentável, e outra na sua qualidade”, explica.
Proteção dos recursos hídricos
Com objetivo de gerenciar as águas do Brasil, principalmente as bacias hídricas, está tramitando no Congresso Nacional o PL 4546/2021. O projeto é considerado o novo marco legal da água no país.
O projeto de lei tem como escopo a criação da Política Nacional de Infraestrutura Hídrica (PNIH), que vai definir os padrões de referência de consumo para os diversos setores da economia e usuários, além de máquinas e equipamentos, à semelhança do que acontece no setor elétrico. A proposta tem o poder de provocar mudanças no atual marco da água, a lei n. 9.433/97, e na lei que criou a Agência Nacional de Água e Saneamento Básico (ANA).
De acordo com o governo, que enviou o projeto, a proposta favorece o gerenciamento eficiente da água no Brasil, principalmente em bacias críticas. Também amplia a participação da iniciativa privada no financiamento e exploração das infraestruturas hídricas, como barragens e canais de água para usos múltiplos.
Entre os primeiros princípios e diretrizes estabelecidas pelo projeto estão a gestão eficiente da água, e a sustentabilidade ambiental, social, econômica e financeira. A política terá como diretriz a integração nacional do gerenciamento das infraestruturas e recursos hídricos (como rios e lagos), e a integração com as políticas de saneamento básico.
Para o deputado federal Daniel Almeida (PCdoB-BA), o projeto deve promover a conscientização da sociedade para o uso de forma adequada dos recursos hídricos.
“Essa deve ser uma política pública que mobilize o conjunto da sociedade, ações nas mais diversas dimensões para proteger os recursos hídricos. E dá maior conscientização às pessoas sobre a necessidade de racionalizar, de usar de forma adequada, não desperdiçar. Também chamar a atenção para a necessidade de cuidar do saneamento, que é um problema grave para os brasileiros”, aponta.
O projeto de lei 4546/2021 está em tramitação na Câmara dos Deputados, apensado ao PL 1907/2015, que também trata da gestão de recursos hídricos no Brasil. Todos serão analisados por uma comissão especial.
O Dia Mundial da Água
Em 22 de março de 1992, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Mundial da Água em solo brasileiro. A data foi lançada durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92, no Rio de Janeiro, como um esforço da comunidade internacional para colocar em pauta as questões essenciais que envolvem os recursos hídricos no planeta.
Todos os anos a ONU propõe um tema para discussão, sendo que em 2023 a temática em pauta é “Seja a Mudança que Você Quer Ver no Mundo”. A edição da campanha deste ano está usando como estratégia de sensibilização a fábula de um beija-flor que se esforça em apagar o incêndio da floresta carregando água pelo seu bico.