O ex deputado Federal pelo PSDB de São Paulo, Xico Graziano, informou agora há pouco pelo Twitter que o pesquisador da Embrapa, Zander Navarro, foi demitido pelo Presidente da instituição, Maurício Lopes. De acordo com as publicações de Graziano, Navarro teria sido demitido pelas críticas que fez à Embrapa em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo no dia 5 de janeiro.
Em seu artigo Por favor, Embrapa: Acorde!, Zander aponta desfunções que comprometem a capacidade da instituição de pesquisa do agro de seguir entregando soluções aos desafios do setor no futuro. De acordo com Navarro, a Embrapa usa seus feitos do passado e sua importância estratégica para mascarar essas disfunções.
Pessoalmente acho que Zander Navarro tem total razão nas críticas que fez. Mas, ainda que ele estivesse completamente equivocado, não poderia ser demitido apenas por discordar dos rumos da instituição.
Soube agora que Zander Navarro, o maior cientista político do agro, foi demitido pelo presidente da Embrapa, Maurício Lopes. Rebelo-me contra esse absurdo. Denuncio sua arbitrariedade. Exijo explicações.
Para quem não conhece, Zander Navarro é um raridade na pesquisa do agro. É um dos poucos sociólogos ocupados em estudar o setor. Já vaticinou o fim da reforma agrária, a farsa do conceito de agroecologia e é um dos organizadores do livro O Brasil Rural no Século XXI.
Vale ressaltar, ainda no calor dos acontecimentos, que uma das críticas que fez à Embrapa em seu artigo, foi a aventura da instituição na África. Já mostrei aqui nesse blog, que o ex presidente Lula entregou a tecnologia brasileira de produção agrícola no cerrado aos africanos. A ação de Lula criaria um concorrente ao agro brasileiro muito mais próximo no mercado asiático do que nós.
Zander Navarro, demitido da injustamente hoje pela Embrapa, foi meu parceiro no “Novo Mundo Rural”, livro que publicamos em 2016 com prefácio de FHC. Combatemos nele o anacronismo da esquerda, tipo MST, que denigre o modelo tecnológico erigido no agro nacional.
Maurício Lopes, (i)responsável pela demissão absurda de Zander Navarro, foi agente direto da ação do PT. Aliás, Maurício Lopes foi nomeado presidente da Embrapa na gestão Dilma Rousseff.
Independentemente disso, Maurício Lopes deve explicações aos homens e mulheres do agro sobre a atitude de demitir um pesquisador da Embrapa por discordar das suas opiniões.
*O novo papel do Estado e das instituições públicas*
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é responsável por prestar um importante e relevante serviço para o setor ao longo de sua história. Nos mais de 40 anos de existência, a instituição muito contribuiu para o desenvolvimento da nossa agricultura.
Em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, no último dia 5 de janeiro, o brilhante pesquisador Zander Navarro – que desde a década de 70 atua e contribui no desenvolvimento de pesquisas na Embrapa – fez uma qualificada provocação e reflexão sobre os rumos da empresa de pesquisa pública.
Temos que repensar a nossa visão estratégica na condução da agropecuária brasileira. Estamos batendo bumbo, porém há enormes desafios que podem tirar o Brasil do protagonismo mundial na produção de alimentos, mas preferimos ficar jogando confetes em nós mesmos!
Qual deve ser o novo papel da Embrapa, do Ministério da Agricultura, das empresas de pesquisa, extensão e defesa agropecuária nos estados, das secretarias estaduais e municipais de agricultura? E qual o papel do Estado como um todo?
E foi essa a reflexão que o pesquisador Zander Navarro nos levou a fazer no artigo. E concordo com ele. É preciso repensar as formas de financiamento público, o tamanho do Estado e com o que ele realmente precisa se ater a resolver.
Na agricultura, por exemplo, tenho dito que nos próximos anos entraremos em uma nova fase da agropecuária do mundo inteiro e que irá revolucionar a forma de produção.
Estudo recente da consultoria Bain & Company, uma das mais importantes do segmento, apontou que será necessário aumentar em 60% a produção de alimentos em todo o mundo nos próximos 40 anos sem a ampliação da área cultivável: ou seja, será preciso produzir mais por hectare de terra. Essa nova fase se dará pelo desenvolvimento da tecnologia aplicada a produção agrícola, especialmente por meio das Agtechs, que são startups que desenvolvem e aplicam inovações tecnológicas para o campo.
E o mundo e País são dinâmicos em todos os setores. Em cada um é preciso debater a função das instituições e qual passa a necessidade de atuação delas.
E foi nessa linha que a reflexão, democrática, respeitosa e seguindo o preceito constitucional importante da liberdade de expressão, que o pesquisador Zander nos fez.
Mesmo após o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, ter emitido um comunicado rebatendo pontos do artigo, também exercendo o direito da livre manifestação, e o pesquisador ter reforçado os pontos argumentados, fui surpreendido com a informação de que Zander Navarro foi demitido da Embrapa de forma na qual classifico como precipitada e autoritária.
No Brasil lutamos muito pelo direito da livre expressão e o direito do contraditório, que fazem parte da nossa democracia. Reitero que considero respeitosa, educada e propositiva as considerações feitas pelo pesquisador Zander Navarro em seu artigo e manifestações públicas acerca do futuro da Embrapa. E acredito que a presidência da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária vai rever essa posição para que a instituição permaneça sempre acima de todos.
Precisamos estar abertos sempre para debater qual o papel das instituições para o desenvolvimento da não só da agropecuária brasileira, mas do Estado como um todo para que possamos alinhar necessidade e realidade.
*Octaciano Neto*
*Arnaldo Jardim*
Secretário de Agricultura do Espírito Santo e de São Paulo, respectivamente