Por Edimilson Montalti, Assessoria de Relações Públicas e Imprensa, FCM, Unicamp
A Síndrome de Burnout é um fenômeno psicossocial que surge como resposta aos estressores interpessoais crônicos presentes no trabalho. Essa síndrome é a expressão de um processo contínuo, com sentimentos de inadequação em relação ao trabalho e de falta de recursos para enfrentá-lo.
Entre as causas do desgaste físico e emocional destacando-se o excesso de trabalho, falta de controle para estabelecer prioridades, remuneração e reconhecimento insuficientes, competitividade e falta de solidariedade entre os pares e de equidade por parte dos colegas e da organização.
Duas pesquisas realizadas na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp analisaram a Síndrome de Burnout em técnicos de enfermagem de um hospital público de São Paulo de alta complexidade e em profissionais da saúde de um hospital oncohematológico infantil. Ambos as pesquisas geraram artigos publicados em revistas científicas.
O primeiro artigo foi baseado em tese de doutorado de Naiza do Nascimento Ferreiro, defendida junto ao programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Departamento de Saúde Coletiva FCM. O segundo artigo foi extraído da dissertação de mestrado de Aline Bedin Zanatta, também defendida dentro do mesmo programa de pós-graduação. O orientador de ambos os estudos foi o professor Sérgio Roberto de Lucca, da área de Medicina do Trabalho da FCM.
Naiza aplicou um questionário com informações sociodemográficas e profissionais e o Inventário de Burnout de Maslach (MBI-SS) para 534 técnicos de enfermagem. De acordo com a pesquisa, a prevalência da Síndrome de Burnout entre os técnicos de enfermagem foi de 5,9%. Além disso, 23,6% desses apresentaram alto desgaste emocional; 21,9% alta despersonalização; e 29,9% baixa realização profissional. Houve associação estatisticamente significativa do desgaste emocional com setor de trabalho e estado civil; despersonalização com possuir filhos e apresentar problemas de saúde; e baixa realização profissional com setor de trabalho e número de empregos.
“O trabalho em saúde exige dos profissionais uma atenção intensa e prolongada a pessoas que estão em situação de dependência. Para os técnicos de enfermagem, o contato íntimo com os pacientes de difícil manejo e o receio de cometer erros no cuidado são fatores adicionais de estresse crônico e casos de burnout evidenciados neste estudo”, explica Naiza.
Aline realizou seu estudou entre 224 profissionais da saúde, sendo médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Foram utilizados dois instrumentos de coleta de dados de autopreenchimento: um questionário biossocial, com base em outros estudos sobre o tema, e o Maslach Burnout Inventory (MBI) versão HSS (Human Services Survey).
A pesquisa constatou que 17,6% dos enfermeiros associaram problemas de saúde com o trabalho no hospital. Entre os médicos este percentual foi de 11,1% e entre os técnicos de enfermagem, de 9,5%. Os problemas de saúde mais relatados entre as três profissões foram lombalgia e depressão. Foram encontrados 40,4% de casos de afastamentos em enfermeiros, 25,0% entre os médicos e 23,2% em técnicos de enfermagem. As causas dos afastamentos mais citadas foram as doenças osteomusculares, seguidas de procedimentos cirúrgicos e problemas relacionados à gestação.
Entre as três categorias profissionais, os enfermeiros apresentaram o maior percentual com um domínio sugestivo de Burnout (50,8%), quando comparado com os técnicos de enfermagem (47,3%) e os médicos (38,8%). Os domínios desgaste profissional e baixa realização profissional apresentaram maior nível de correlações com variáveis biossociais para os técnicos de enfermagem, seguido dos médicos e enfermeiros.
“Esses achados podem auxiliar a tomada de decisões quanto à implementação de projetos em educação continuada, a fim de obter melhoria das condições de trabalho, além de servir como fator de conscientização sobre a saúde mental dos trabalhadores. Além disso, outros estudos direcionados à compreensão das relações dos profissionais de saúde e a organização do trabalho, incluindo os fatores internos potencializadores ou protetores da Síndrome de Burnout, devem ser realizados para aprofundar o conhecimento e compreender essa síndrome”, diz Aline.