A Uesb dispõe de 238 laboratórios, que possibilitam o desenvolvimento de pesquisas nos cursos de graduação e pós-graduação
Por: Aline Luz/Revista Uesb
Quem tem acesso a um detergente à base de jaca ou a um mel de cacau nem imagina que tudo começou em um laboratório de uma universidade. Ao responder a grandes perguntas e enfrentar desafios importantes do nosso cotidiano, a ciência cria conhecimento e melhora a vida das pessoas. É o caso destes dois estudos científicos, desenvolvidos por pesquisadores da Uesb, nos campi de Itapetinga e Jequié.
Mel de cacau no chocolate
Um líquido rico em antioxidantes, fibras alimentares, vitamina C e açúcar. Esse é o mel de cacau, extraído da polpa do fruto, e, durante muitos anos, praticamente ignorado na confecção de chocolates, que utiliza somente as sementes do cacau. Após uma crise na produção, por causa de uma doença fúngica chamada “vassoura-de-bruxa”, pesquisadores iniciaram um estudo para buscar alternativas de melhor aproveitamento do fruto.
Liderados por pesquisadores da Uesb e da Universidade de São Paulo (USP), os estudos revelaram que o mel de cacau pode ser usado como um adoçante natural para o chocolate, trazendo melhor aproveitamento do fruto, além de agregar valor nutricional. Essa descoberta foi feita em 2012, quando o professor Marcondes Viana da Silva, da Uesb, e a professora Suzana Caetano da Silva Lannes, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, lideraram pesquisas para fazer o processamento do mel de cacau e utilizá-lo como um adoçante natural no chocolate. Além disso, a pesquisa resultou na formulação de um sorvete à base do líquido extraído do fruto.
A tecnologia consiste na secagem do mel de cacau, que pode ser realizada pelo método de liofilização spray dryer, tambor ou estufa. “Depois da etapa de desidratação do produto, procedeu-se a adição parcial ou total em formulações de chocolate em substituição à sacarose ou ao açúcar refinado. Esse tipo de procedimento ainda não é explorado pela indústria de chocolates. Após a constatação de excelentes resultados de processamento e análise, percebemos a possibilidade de patentear tal invenção”, explica Viana.
Para assegurar a propriedade da invenção, em 2013, eles entraram com o pedido de registro da patente no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), que foi aprovado em fevereiro de 2021. O título da invenção é Composição Alimentícia com Mel de Cacau e é de titularidade (propriedade) da Uesb e da USP.
De acordo com o professor, a certificação conferida pela entidade pública é muito significativa à cultura do cacau e aos pesquisadores. “É importante para a cadeia produtiva cacaueira, não somente para a região Sul baiana, como também para a indústria brasileira e internacional, além de incentivar a continuidade tecnológica na geração de novos produtos alimentícios derivados do cacau, proporcionando retorno à sociedade do valor investido em pesquisas”, ressalta.
Viana destaca o valor que o mel de cacau tem para o agronegócio e para a sociedade, pois é uma tecnologia que apresenta uma nova forma de aproveitar o cacau, já que a indústria só utiliza as amêndoas do fruto. “O aproveitamento desse subproduto traz o conceito de sustentabilidade à produção de cacau, o que gera competitividade no mercado, além de ampliar a contribuição social e econômica para a lavoura cacaueira”, destaca.
Detergente à base da casca de jaca
Outro estudo desenvolvido na Uesb apontou um método de produção de um detergente a partir da casca da jaca. A pesquisadora Dhiéssica Ribeiro desenvolveu um estudo científico no Mestrado em Química da Uesb, campus de Jequié, com a proposta de produzir, classificar e aplicar enzimas em detergentes comerciais, verificando a eficácia na remoção de manchas em tecidos de algodão.
Existem detergentes que já contém enzimas em sua composição, porém o uso em escala industrial é limitado por conta do alto custo. A partir desse contexto, a pesquisadora encontrou uma possibilidade de produção dessas enzimas através do processo de fermentação entre o fungo Penicillium camemberti ATCC 4845 e o resíduo da casca da jaca.
A partir dessa combinação, foi possível extrair enzimas, geralmente utilizadas em formulação de detergentes. Em seguida, foram selecionadas três marcas de detergentes comerciais e feito um teste de compatibilidade dessas enzimas. A pesquisa foi realizada em tecidos com 100% de algodão, manchados de gema de ovo, molho de tomate e óleo de soja. “O efeito das enzimas na remoção das manchas foram revelados através de um exame visual. E os resultados demonstraram que as lavagens dos tecidos com detergente e extrato enzimático foram mais eficientes na remoção das sujeiras”, avaliou Dhiéssica.
Segundo a pesquisadora, o estudo apresenta uma alternativa para obter enzimas de baixo custo e que podem ser aplicadas no setor industrial. “Além disso, o trabalho reduz o impacto ambiental, uma vez que reaproveita os resíduos da jaca, que seriam descartados de forma inadequada”, completa.