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Ponto de luz

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Lá era tudo absolutamente igual.

Todos os dias a rotina fria e indiferente de pessoas entrando, trabalhando e saindo sem trocar olhares.

Palavras vão e vêm minimamente.

Quando possível, o silêncio torna-se imperioso.

Fones de ouvido são removidos apenas para serem rapidamente substituídos por telefones.

O ambiente, além de ser monocromático é também monossilábico.

E, se é que existe possibilidade, monoexpressivo.

Mesmice com certeza é a palavra que define o todo.

E ali está ela, a Miss Simpatia em um lugar onde tudo se faz sempre igual.

Quando chega, distribuindo sorriso e simpatia, estranha a indiferença.

Por onde passa, entrega um sorriso e recebe o silêncio macambúzio.

Assim vai desde a portaria até chegar à sua mesa.

Na hora do almoço, todos saem cabisbaixos e ela não recebe sequer um convite para o almoço.

Ninguém.

Todos encapsulados vivem suas vidas no limite de suas mesas sem um sorriso, sem um olá.

Os assuntos tratados são estritamente aqueles para os quais são pagos para conversar.

Quando terminam, tudo se encerra.

É claro que aquele é o principal assunto a ser tratado, sempre, mas deixar uma novata almoçar sozinha?

Ao fim do primeiro dia, Miss Simpatia está tão incomodada que sua vontade é não mais voltar.

Como assim?

Por ter sido colocada em um lugar onde tudo era mono iria fugir?

Iria e não mais voltaria?

Justo ela?

No outro dia vestiu a sua roupa mais feliz, colocou no rosto seu mais belo sorriso e partiu.

Passou pelas mesmas pessoas e, em vez de só dizer bom dia, parou sorriu e falou bom dia a cada uma delas e estendeu a mão.

Recebeu de volta dois tímidos sorrisos apenas.

Na hora do almoço, convidou a cada um de seus colegas para almoçar.

Recebeu dois nãos e um “talvez amanhã.”

Almoçou sozinha.

Ao fim do dia, deu a cada pessoa que por ela passava um sorriso de até amanhã.

Recebeu um olhar admirado.

Foi embora mais satisfeita.

E, a cada dia, repetia o processo.

A cada dia, levava uma pequena gracinha para enfeitar sua mesa.

Pequena, discreta, mas cheia de cor e alegria.

E assim foi.

Alguns dias, sentia-se completamente desanimada, com vontade de deixar que a monotonia que a rodeava entrasse, passasse a fazer parte dela também.

Quando essa ideia chegava, ela pensava que era colorida, alegre, falante e feliz. Não se tornaria monocromática, monossilábida e monoexpressiva só por estar em um lugar assim.

Enquanto desempenhava suas atribuições de maneira excelente e exemplar, ia distribuindo discreta e sorrateiramente seu sorriso, sua cor e alegria.

Até lá pelas tantas, sabe-se lá quando, começou a receber a resposta aos seus “Bom dia”. Em uma só manhã recebeu cinco convites para almoçar e na hora de ir embora, incontáveis “Até amanhã.”

Depois desse dia, reparou, mesmo sem querer, que havia em algumas mesas um colorido diferente e as pessoas estavam desempenhando seus papeis de maneira mais leve, mais feliz.

Nesse dia, o mais taciturno de todos os seus colegas de trabalho disse a ela:

“Miss Simpatia, eu reparei que, depois da sua chegada, as pessoas começaram a sorrir mais nesse lugar de gente séria. As pessoas estão mais leves, mais felizes. Tenho certeza de que isso aconteceu por que você resolveu distribuir a todos nós um pouco da sua alegria a cada manhã. Obrigada por ser nosso ponto de luz.”

Seja luz você também, transforme o lugar onde está e seja mais feliz.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744