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Por que é tão difícil fazer o brasileiro respeitar a quarentena?

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Por Amanda Paulo 

 

O Brasil ultrapassa as 331 mil mortes pela covid-19 e vive o colapso do sistema de saúde, com falta de leitos, profissionais e até de oxigênio. Ao mesmo tempo, o noticiário exibe diariamente festas clandestinas, desrespeito a normas sanitárias, discursos de negação em todos os níveis da sociedade. O psicólogo especializado em Crises e Emergências Alexandre Garrett afirma que a dificuldade de conscientizar as pessoas sobre a necessidade da quarentena acontece por uma série de motivos, “desde a falta de amadurecimento da sociedade até a ausência de liderança”.

Segundo Garrett, a negação é um mecanismo para tentar escapar da realidade. “A realidade é muito dura e muitos não têm estrutura e maturidade para encarar qual é a parte que cabe a si próprio para ajudar a combater essa pandemia. No entanto, temos que ter responsabilidade, pois a luta contra o vírus é de todos nós”, afirma.

Reduzir o negacionismo, a falta de empatia e o desrespeito às regras determinadas pelas autoridades, na avaliação do psicólogo, passa pelo amadurecimento da sociedade. “Existe um processo que a psicologia chama de individuação, que ocorre quando a pessoa toma consciência das suas responsabilidades como adulto. Esse processo é uma luta contra tudo e todos, uma forma de resistência que o organismo faz de não aceitar essa mudança. E uma das regras desse processo é o negar a realidade, não aceitar. A individuação é um processo de construção da individualidade e a gente constrói a nossa individualidade nos espelhando no outro, nos exemplos que nós temos”, explica.

 

Na avaliação do especialista, o desrespeito às normas sanitárias está ligado à falta de liderança. Foto: Tomaz Silva/Fotos Públicas.

 

O especialista diz que para quebrar essa barreira é preciso acelerar o processo de choque desses adolescentes e adultos que ainda não tomaram consciência da atual realidade. “Isso se faz com exemplos e atitudes, sejam da família, dos amigos, mas, principalmente, dos líderes, de quem comanda o país.”, diz.

Garret dá exemplos de como os líderes podem ser determinantes nesse processo. “Os países europeus e os Estados Unidos estão também sofrendo com a covid, mas a população se sente apoiada e protegida em uma liderança forte. O exemplo do líder é fundamental para conscientizar a população. Quando o presidente da República adota um discurso de negação e transforma a adoção de medidas de quarentena em uma disputa política, o resultado é desastroso para todos e desestimula o cumprimento das normas sanitárias”, afirma.

Garrett conta que a longa duração da crise é outro fator que desestimula o distanciamento social. “Estamos vivendo há mais de um ano trancados dentro de casa, o quadro de angústia e desespero social aumenta e a cada dia fica mais difícil manter o isolamento, mesmo entre as pessoas mais conscientes. Em outra frente, isso tem provocado uma certa rebeldia na população que insiste em se aglomerar em bares, restaurantes ou festas particulares”, completa o especialista.

Essa rebeldia, explica Garrett, não é exclusividade dos adolescentes. “Hoje a adolescência não é mais definida pela idade. É definida pela falta de noção da realidade e de sua responsabilidade”, afirma.

O psicólogo especializado em Crises e Emergências, Alexandre Garrett. Foto: Divulgação.


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