Abro a coluna com o vinho da missa
Mata o bicho
Falo do monsenhor Aristides Rocha, mineirinho astuto, que fazia política no velho PSD e odiava udenistas. Ainda jovem, monsenhor foi celebrar missa em uma paróquia onde o sacristão apreciava uma boa aguardente. Um dia, o sacristão, seguindo o ritual, sobe o degrau do altar com a pequena bandeja e as garrafinhas de vinho e água, e não vê uma pequena barata circulando entre as peças do altar. Monsenhor interrompe o seu latim e, de olho na bandeja, diz baixinho ao sacristão:
– Mata o bicho…
O sacristão não entende a ordem. Atônito, fica olhando para o jovem padre, que repete a ordem, agora com mais energia:
– Mata o bicho, sô!
Ordem dada, ordem executada. O sacristão não se faz de rogado. Diante dos fieis que lotam a capela, ele pega a garrafinha e, num gole só, sorve todo o vinho da santa missa. No interior de Minas, “matar o bicho” é dar uma boa bebericada.
(Do livro de Zé Abelha, A Mineirice).
Poranrápidas…
O luxo do funeral
“O luxo do funeral e a suntuosidade do túmulo não melhoram as condições do morto; satisfazem apenas a vaidade dos vivos“. (Dante Veoléci)
A índole
Após uma conversa de 20 minutos, o presidente Bolsonaro deu uma entrevista civilizada à imprensa. Sem impropérios e adjetivos pesados. Teria mudado? As pesquisas abriram seus ouvidos? Não se muda uma índole da noite para o dia.
In dubio
Pro reo. O ditado latino sugere ficar do lado do réu quando há dúvida sobre a situação que o envolve. E ante a verdade? Nenhum militar está dentro do vacinagate? Será que o imbróglio que laça alguns nomes não tem nenhum verniz de verdade? Ante a evidência de verdades, puna-se o réu.
A defesa em nota
O ministro da Defesa, Braga Neto, com o endosso dos comandantes das Forças-Marinha, Exército e Aeronáutica -, fez uma nota em defesa dos militares. O alvo foi o presidente da CPI da Covid-19, senador Omar Aziz. Militares prestigiados da reserva, ao que se lê, não concordam com a militarização do governo. O general Santos Cruz tem sido uma voz forte nessa direção.
Omar no ataque
Omar Aziz tem se saído muito bem no comando da CPI. Quem esperava uma performance amorfa, insossa, se surpreendeu. Omar é um dos mais ferinos integrantes da Comissão. Por sua causa, aliás, o G7 perdeu o senador Eduardo Braga, MDB-AM, e vira G6. Política amazonense.
Renan pertinente
O relator Renan Calheiros, MDB-AL, faz perguntas pertinentes. Ajusta a imagem a esses tempos de assepsia. Consegue, a seu modo, deixar de ser alvo de tiroteio.
O leão governista
Já o senador Marcos Rogério, DEM-RO, é o leão que defende o território governista. Cresceu muito na CPI. Divisa uma trajetória política de sucesso. Pode vir a ser governador.
Mendonça
Passará pela sabatina do Senado? O AGU, o pastor evangélico André Mendonça, abre caminho para ser aprovado como ministro do STF. Mas, seja qual for o resultado, a margem de vitória ou de derrota será pequena. Se for aprovado, fará o pedido do chefe Bolsonaro? O de abrir semanalmente as sessões do STF com uma oração. E o Estado-laico?
Vai dar em pizza?
A CPI da Covid-19 dará em pizza? Difícil saborear a massa ante tantas evidências. Mas este analista não acredita em impeachment do presidente. Um caldo grosso será ofertado, mas os condimentos políticos tentarão açucarar as decisões.
Pacheco
Anotem este nome: Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, mesmo nascido em RO, é um mineiro de quatro costados. Entrará no PSD de Kassab e será candidato à presidência da República em 2022. A conferir. Terceira via.
Alckmin e Kalil
Gilberto Kassab sabe costurar o tecido político. Puxa Geraldo Alckmin para o PSD, que o lançará candidato ao governo de São Paulo, em 2022. E já tem acertada a candidatura de Alexandre Kalil, prefeito de BH, ao governo de MG.
E Lula?
Como sair da polarização Bolsonaro x Lula? Tirando um ou outro. Para Bolsonaro sair, só o impeachment. Que faria afundar a candidatura petista. Diante dessa improvável alternativa, Lula navegará tranquilo. Até o nome da terceira via vingar.
Ligeirandubas…
A segunda parte da coluna continua com ligeiras passagens.
Clima social
Há ameaça de golpe nos horizontes eleitorais? Palavras ao vento. O destino do Brasil não aceita golpes sem um imenso apoio social. E isso faltará a qualquer protagonista com tal intenção. A profissionalização das Forças Armadas falará mais alto que eventuais ameaças.
Economia
Tende a melhorar nos próximos meses.
Imposto de renda
Com desafogo no bolso das classes médias, a reforma do IR poderá atrair a simpatia de contingentes eleitorais.
Tributária
Vejamos o que diz o amigo ex-deputado Luiz Carlos Hauly, um dos maiores especialistas em matéria de reforma tributária: “A aprovação da PEC 110 vai proporcionar uma Black Friday permanente para o consumidor brasileiro. Ela vai eliminar R$500 bilhões por ano de gorduras trans dos preços relativos de Bens e Serviços e eliminar de imediato 50% da sonegação fiscal anual de R$600 bilhões. Vai proporcionar um novo círculo virtuoso de crescimento Sustentado com renda e consumo para todas as famílias e em especial para as de menor renda, que são a maioria da nossa população.”
Vespasiano
Do mestre Rui Barbosa: “Vespasiano dizia que, para um imperador, decência é morrer de pé, decência é cumprir bem o seu papel.” A falta de vergonha, por estas plagas, chega ao pico da montanha.
O reino da mentira
Já o Reino da Mentira, descrito pelo senador Rui Barbosa, nos idos de 1919, volta à ordem do dia: “Mentira por tudo, em tudo e por tudo. Mentira na terra, no ar, até no céu. Nos inquéritos. Nas promessas. Nos projetos. Nas reformas. Nos progressos. Nas convicções. Nas transmutações. Nas soluções. Nos homens, nos atos, nas coisas. No rosto, na voz, na postura, no gesto, na palavra, na escrita. Nas responsabilidades. Nos desmentidos.”
Bismarck
Nesses tempos de preamar do niilismo, cai bem nas nossas cabeças a insinuação do chanceler Von Bismarck (1862-1890): “se as pessoas soubessem como se fazem as leis e as salsichas”, possivelmente não cumpririam as primeiras nem comeriam as segundas.
Vale quanto pesa
Um aspecto fica bastante patente na fisionomia dos Países de sólida democracia: as leis valem pelo peso da importância, tornando-se conhecidas, respeitadas, rigorosamente adotadas e, sobretudo, gerando resultados e fazendo convergir os interesses coletivos.
Clima eleitoral
Com muita antecedência, a campanha eleitoral de 2022 começa a ganhar as ruas. E, como se sabe, com alvos a atrair; eleitores interessados na política, racionais, com intenção de voto definida; e grupamentos dispersos, desinformados, instáveis e emotivos. Os primeiros se interessarão pelos discursos de seus candidatos, sendo pouco suscetíveis às mensagens dos adversários, enquanto os segundos, pragmáticos, podem mudar de posição, de acordo com os benefícios – maiores ou menores – oferecidos pelos contendores por meio de propostas para áreas como saúde, educação, transportes, segurança, habitação, emprego e bem-estar social. Quem prometerá mais?
Campanha negativa
Preparemo-nos para ver campanhas negativas. Pinço um caso dos EUA, tradição naquele país. Lyndon Johnson, candidato democrata a presidente em 1964, foi o primeiro a pagar anúncios para desmoralizar o rival Barry Goldwater. Uma menina no campo desfolhava pétalas de uma margarida, enquanto as contava uma a uma, até que, chegando ao dez, uma voz masculina começava a reverter a contagem. Na hora do zero, sob um ruído ensurdecedor, via-se na tela uma nuvem de cogumelo, simbolizando a bomba atômica, e a voz de Johnson: “Isto é o que está em jogo – construir um mundo em que todas as crianças de Deus possam viver ou, então, mergulhar nas trevas. Cabe a nós amar uns aos outros ou perecer.” O arremate: “Vote em Lyndon Johnson. O que está em jogo é demais para que você se possa permitir ficar em casa.” Em nenhum momento se mencionava Barry Goldwater, o candidato republicano. O anúncio saiu apenas uma vez, mas as TVs o repetiram. Outros foram criados e massacraram o falcão republicano.
Aluízio alves
Aluízio Alves, pioneiro do uso das ferramentas do marketing político, candidato a governador do Rio Grande do Norte em 1960, acusado pelo adversário de correr o Estado dia e noite liderando multidões pelas estradas, apropriou-se do termo “cigano” a ele atribuído. Enfeitiçou as massas. Os comícios pegavam fogo. Dinarte Mariz, o governador, patrono da candidatura de Djalma Marinho, menosprezava: “Quem vai a esses comícios é uma gentinha analfabeta.” Aluízio adotou o termo: “Minha querida gentinha.” Ganhou a eleição. P. S. Quando as acusações assumem um toque pessoal, podem se voltar contra o agressor. A desconstrução de perfis acaba se voltando contra o desconstrutor.
Pão e circo
“Os povos gostam do espetáculo; através dele, dominamos seu espírito e seu coração“. Luís XIV.
Maquiavel já aconselhava ao Príncipe “divertir e reter o povo em festas e jogos”. Os tiranos que surgiam nas cidades gregas entre os séculos VII e VI A.C. já utilizavam intensamente as festas populares em benefício de sua propaganda.