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Porcos e tomadas

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A cantilena das máximas populares alerta que “focinho de porco não é tomada”. Os deletérios institucionais que atualmente habitam os faustos planaltinos parecem desconsiderar tal assertiva. Indiferentes à impressão de desordem generalizada, a equipe palaciana da Presidência da República e sua vastíssima base governista trabalham diuturnamente para desmistificar a pecha gerencial, centralizadora e autoritária de Dilma Rousseff, cujo prestígio imerecido lhe rende destaque de segunda mulher mais poderosa do planeta.

Para garantir a cadeira de espaldar alto do Palácio do Planalto, os lulodilmistas miraram três flancos do comércio político brasileiro: a compra, no atacado, de legiões de beneficiários dos programas sociais; o tráfico varejista de apoios partidários, apaniguados através de um loteamento da administração pública jamais visto na história e sem quaisquer critérios técnicos; e o investimento maciço na aniquilação do direito ao contraditório, do pensamento opositor. Disfarçou esse modelo tergiverso à sombra de pilares democráticos e emprestou-lhe a alcunha de “Esquerda Progressista”.

Veio 2013 e o lixo produzido pelo modelo petista de governança entupiu a fossa. Não bastasse a economia vacilante, a inglória sucessão de “PIBinhos” e o largo trote inflacionário, o debate sobre os problemas reais do Brasil emergiu do ambiente intelectual onde estava encravado — “coisa das elites”, “mídia golpista”, “herança maldita” e afins, no melhor do dicionário de definições de Lula da Silva — e foi parar na boca do povo. A ineficácia da administração federal é assunto de primeira ordem desde a mesa dos nobres ao botequim da esquina e às filas de supostos miseráveis bolsistas.

O gatilho foi acionado. Os percentuais de estratosférica aprovação popular medidos por institutos de pesquisa deixaram de representar a voz corrente das ruas e das redes sociais. Sentindo o odor nauseabundo dominando o país, a irresponsável solução encontrada pela esquerda progressista foi antecipar a disputa eleitoral de 2014 e jogá-la no olho do furacão de mazelas evidentes. Além do desvio de foco, há duas razões patentes: o óbvio protagonismo de Dilma Rousseff e seu pleito à reeleição; e tempo para avaliar a eventual necessidade de uma candidatura do eterno carismático Lula da Silva.

Outro revés. Ao bancar a antecipação dos debates eleitorais, o governo tornou-se alvo preferencial de todo e qualquer ataque: tiros de festim da oposição apequenada e chumbo grosso da própria base aliada. Numa semana, os dilmistas conseguem conter a sanha do “fogo-amigo” e aprovar a MP dos Portos – que ganhou o risível e adequado apelido de “MP dos Porcos” -; noutra, sofrem dura derrota, obrigados a criar um arremedo na MP da Cesta Básica para garantir a eleitoreira redução das tarifas de energia prevista na caducada MP da Conta de Luz. Tudo isso a despeito de dispor do maior conglomerado de apoiadores jamais visto nas democracias ocidentais, ainda que composto por “partidos de mentirinha”, como revelou o “exercício intelectual em ambiente acadêmico” do presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa.

Cereja do bolo solado, a estimada Caixa Econômica Federal, presidida por um mestre em Arquitetura e Urbanismo e com escalafobéticas onze vice-presidências, revelou ao país a barbeiragem imposta aos cidadãos quando em pleno desgoverno. Logo após a escandalosa turba sacudir o Brasil durante a boataria ao redor do Bolsa Família, a diretoria do banco estatal  refastelou-se em mentiras, fábulas que evidenciam o descalabro. Que modelo de gestão pública entrega a funcionários do chamado terceiro escalão o poder de movimentar, num único dia e alterando um calendário oficial, a cifra de R$ 2 bilhões sem precisar comunicar ou consultar seu chefe – ou “chefa”! -, aquele que irá responder administrativa e politicamente às instâncias de fiscalização e controle? Sintoma de bagunça crônica, generalizada.

Até recentemente, à rabeira meteórica da propaganda oficial, o Brasil sambou nos salões internacionais como uma enorme e aberta janela de oportunidades, desfilando vantagens de fachada e promessas inexequíveis aos portentosos investidores. Diante da bagunça institucional – que não consegue administrar o mínimo, quiçá realizar as imprescindíveis reformas política, estrutural e tributária, ou estabelecer qualquer marco regulatório -, o país mergulha no mar obscurantista das economias instáveis, politicamente desgovernadas. Afastar investimentos é apenas o resultado primário, a consequência imediata.

Administração inchada à enésima potência, gerida por uma classe política de caráter duvidoso e focada no loteamento eleitoral embandeirado pela distribuição de benesses sociais sabotadoras da força motriz. Um porco grande e gordo é o que nos tornamos. Reiterando a máxima, como “focinho de porco não é tomada”, o Brasil segue à luz de velas. Ninguém sabe se por prece ou féretro.

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