Interessante o caso de Luisa Ortega, ex-procuradora-geral da Venezuela. Chavista de carteirinha, “bolivariana” dos quatro costados, vale dizer, revolucionária e marxista, apoiou o desastre em curso no seu país e, certamente, respingou lágrimas no caixão de Hugo Chávez.
Sob seus olhos foram caindo as liberdades democráticas; da janela de seu gabinete contemplou a inevitável degradação social causada pela estatização da economia; a seus ouvidos chegavam as notícias sobre a doutrinação nas salas de aula. Em toda parte de sua Caracas se estabeleceu o culto da personalidade, os louvores à “Revolución”, as bravatas histriônicas de Hugo Chávez e a mitificação típica dos regimes totalitários. Para ela, estava tudo muito bem.
A tudo viu e serviu. Agora, dá uma de Mercedes Sosa. Lembram dela, ao romper com Fidel Castro após a execução “de los três negritos” em 2003? Com aquela voz maravilhosa, por mais de 40 anos, Mercedes cantou a revolução enquanto o pau comia solto nas ruas de Havana, as cadeias se enchiam de presos políticos e o paredón de La Cabaña se descascava a balazos. De repente, aborreceu-se… Assim, também, Luisa Ortega.
Ontem, 5 de julho, enquanto a revolução dava mais um passo na instalação da farsa constituinte de Maduro, a sede de sua procuradoria-geral foi cercada pelas tropas da Guarda Nacional e ela apelou … para o Twitter, exibindo imagens do abuso. Quando os venezuelanos enchiam as redes sociais exibindo a degradação política, social e econômica de seu país, onde andavam ela e sua Constituição Bolivariana de bolso?
A ex-procuradora-geral, destituída ontem pela “constituinte”, faz lembrar a frase final da formiga para a cigarra: “Então, cantavas? Dança, agora.”