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Promessas

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“Você não é obrigada a prometer nada a ninguém, mas, a partir do momento em que promete, é obrigada a cumprir sua palavra.”

Misericórdia!

Que pesado escutar isso, meu Pai.

Mas você já recebeu uma promessa de alguém?

Alguma vez na sua vida, sem ter nem pra que, alguém chegou e disparou uma promessa no seu ouvido?

O que aconteceu com seu coraçãozinho?

Causou uma revolução na sua vida ou você é tão tranquilo, confiante, quem sabe, despreocupado e nada ansioso que não  fez nem cócegas no coração?

Porque, meu amigo, quando alguém me faz uma promessa…

Engraçado, enquanto escrevo, me lembrei do meu aniversário de oito anos.

Quando eu fiz oito anos, as festas eram feitas na casa do aniversariante, não existia esse negócios de “casa de festa” e mais, lá em casa, mamãe fazia tudo: do bolo aos doces, passando pelos salgadinhos e toda a comilança que seria ali servida.

Lembro que, nessa festa específica, ela teve ajuda de uma vizinha.

Nessa época, a gente só se encontrava com refrigerante em festas de aniversário e isso, por si só, já fazia com que isso se tornasse um grande evento.

Minha festa foi da turma da Mônica.

Teve a “caixa do bolo” com a Mônica e o Cascão em cima e a mesa foi decorada com bonequinhos do Cebolinha, Mônica e Bidú, recheados de balinhas do coco enroladas em papel de seda, cheios de franjas.

Balões coloridos por todos os lados e eu toda lindinha com um vestido de organdi rosa e laço de fita no cabelo.

Lembro direitinho que a casa em que morávamos tinha uma varandinha minúscula e o quintal na frente e que passei a festa inteira em pé na varandinha encostada na parede com as mãos para trás esperando quem para mim era a mais importante de todas as convidadas: minha professora.

Eu nunca fui de ter melecotecho com professora.

Achava, eu juro que achava, desde muito pequena, que tudo que elas faziam, com carinho e dedicação, não passava de obrigação.

Criaturinha ordinária eu era!

Deve ser por isso que, depois que me tornei professora, quase não tive alunos que me dengassem.

A “lei do retorno.”

Mas aquela eu convidei para o meu aniversário.

Gostava dela e, também, a festa ia ser muito legal.

Esperei, esperei a festa inteira.

Todo mundo que chegava eu pensava que era ela.

E, a cada convidado, uma decepção.

Por mais que eu tenha esperado, ela não apareceu.

Fiquei triste de dar dó.

Mas, quando vi que ela realmente não viria, fui curtir minha festa que já estava perto do fim.

Lá pelas tantas, chegou uma prima que já era adulta e me contou a seguinte história:

“Vivi, eu comprei uma lancheira pra você, mas não trouxe. Amanhã vou deixar na casa da sua vó, você passa lá e pega, tudo bem?”

– Claro! – falei toda feliz.

Daquele momento em diante, passei a imaginar a lancheira em todos os seus detalhes.

Tanto que, se hoje eu encontrar essa lancheira na rua, juro que a reconheço.

No outro dia cheguei á casa da minha avó toda satisfeita:

– Oi, vó. A prima deixou a lancheira pra mim?

“Lancheira, minha filha? Deixou não.”

E essa foi a resposta para todas as vezes em que fiz a ela essa pergunta.

A prima nunca deixou a lancheira na casa da minha vó.

A tia da escola falou no outro dia que não tinha conseguido ir porque o marido havia saído com o carro e não tinha voltado a tempo e que ela com aquele barrigão, estava muito grávida a moça, não dera conta de ir de ônibus.

Eu entendi.

Mas a história da lancheira…

Até porque ela nunca me disse nada, e eu nem tive coragem de fazer uma cobrança pública.

Promessas…

Promessas feitas a crianças são realmente mais sérias, afinal, crianças são bichinhos inocentes que acreditam em qualquer coisa e, principalmente, nas pessoas…

Mas promessas são promessas.

Por isso, gatinho, cuidado com as promessas que você faz.

Porque quem as recebe e não as vê se cumprir pode muito bem se lembrar de você e suas promessas trinta e tantos anos depois.

Já pensou?

Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744