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Quaresma: entre o jejum e o desejo

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Nós somos movidos pelo desejo. Desejo de paz, de amor, de compreensão, de realização, de sonhos que queremos concretizar, desejo de pessoas, desejo de amizade sincera, desejo de ter mais dinheiro, posses e poder. O desejo se alastra e envolve toda a nossa vida. Ele nos faz andar e também nos torna sempre insatisfeitos. Sempre queremos algo mais. O artista que conquistou a maior fama continua mantendo o desejo, que nunca se esgota, de fazer mais, de compor novas canções, de expandir ainda mais sua obra. O empresário que tem uma grande empresa deseja ampliar ainda mais seus negócios e colocar seus produtos em outros mercados. Quem está satisfeito com o que alcançou terá desejo de descobrir novas dimensões da vida, fazer novas viagens, desbravar novos campos aonde ainda não trilhou. A vida se torna dinâmica pelo impulso do desejo. O desejo aponta para um além, para um não ainda, para um mais além do que já se foi e já se fez. Em última instância ele abre para o absoluto ou se quisermos para Deus. Parece ser ali onde o desejo definitivamente se acalma. Ocorre que isso não acontecerá enquanto estamos vivos.

Pois bem! O título do artigo fala de jejum e eu somente falei de desejo. O que uma coisa tem a ver com outra? No tempo da Quaresma orienta-se fazer algum jejum de carne, em dias específicos. Claro que o jejum poderia ser de outras necessidades que vamos criando. Se fizermos jejum dessas necessidades (bebida, WhatsApp, redes sociais, compras, chocolate, novelas, filmes, etc) poderemos sentir uma grande satisfação por percebemos que não estamos sendo dominados por elas. O jejum pode significar a capacidade de lidar com o desejo. O desejo, de certa forma, me torna insaciável. O jejum me faz perceber que eu posso estar satisfeito com apenas isso. Posso me satisfazer com menos comida, com o dinheiro que tenho, com a roupa que tenho, com as pessoas que conquistei. A lista pode continuar. O jejum seria então o exercício do autocontrole. Saber que eu não sou empurrado constantemente por um impulso que está dentro de mim. Eu posso controlar e lidar com esse impulso. 
Aqui percebemos que a vida não pode ser só jejum e nem só desejo. Desejo e jejum criam o movimento de expandir e retrair. Não dá para viver e pensar que a felicidade sempre estará no mais além, no outro lado, no que ainda não tenho ou não conquistei, o que é próprio do desejo. Nem da para contentar-se com o mínimo ou só fazer jejum e não dispor-se a avançar, se a vida nos pede para ir além. Saber dominar-se, autocontrolar-se, privar-se de algo para dizer que eu mesmo estou vivendo a vida é muito importante. Assim vou perceber que estou pilotando a minha própria aeronave. Estou com as rédeas da minha vida. 
Gostaria de propor a você pensar sobre o jejum neste sentido. Afinal, você já fez jejum de alguma coisa por decisão própria?

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