De acordo com levantamento, 54% dos entrevistados não estariam prontos para enfrentar o tratamento da doença caso seu filho fosse diagnosticado
Por Gomes, Larissa
São Paulo, 23 de novembro de 2018 – O câncer infantil é a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos incompletos, de acordo com o Instituto Nacional de Combate ao Câncer (INCA). No entanto, para mais da metade dos brasileiros (53%), doenças como a pneumonia (23%), meningite (14%) e a desnutrição (16%) são as que mais matam. Essa dicotomia evidenciada pela pesquisa “Câncer infantil: o quanto conhecemos?” ressalta e exemplifica o desconhecimento do brasileiro em relação ao câncer infantil.
Realizado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), em parceria com a Bayer, em 5 capitais brasileiras (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília), com 2.500 entrevistados, o levantamento tem como objetivo mensurar o conhecimento da população brasileira sobre o câncer infantil e alertar para os primeiros sinais da doença que podem viabilizar um diagnóstico precoce.
Denominado infantil ou infanto-juvenil, esse tipo de câncer compreende o aparecimento de tumores em diferentes locais do corpo e acomete crianças e jovens de zero a 19 anos de idade incompletos. Apesar de ser considerada uma doença rara quando comparada ao número de casos em adultos, correspondendo a apenas 3% do total de tumores no país, hoje é a principal causa de morte em crianças e adolescentes nessa faixa etária, somando anualmente em torno de 12.600 casos novos ao ano, somente no Brasil.
Diferenças cruciais, porém, desconhecidas
De acordo com o INCA, as principais diferenças entre os cânceres infantis e de adultos estão nos aspectos morfológicos (como o tipo de tumor), no comportamento clínico (como a sua evolução) e nas localizações primárias.
Enquanto que nas crianças e jovens os cânceres geralmente afetam as células do sistema sanguíneo, nervoso e tecidos de sustentação, como os ossos; nos adultos, as células epiteliais, que recobrem os órgãos são as mais atingidas. Além disso, os cânceres no adulto comumente apresentam mutações em decorrência de fatores ambientais, enquanto que nos pequenos e jovens, ainda não há estudos conclusivos sobre a influência desses aspectos no aparecimento da doença.
Embora essas sejam informações importantes para a detecção e, principalmente, para o tratamento adequado, o levantamento constatou que, para 45% dos brasileiros, o câncer que acomete crianças é igual ao câncer que acomete adultos. Além do mais, apenas 30% sabem que a maioria dos casos de câncer não tem causa conhecida.
“O levantamento indica que a população brasileira tem um conhecimento em parte equivocado em relação ao câncer infanto-juvenil”, explica o especialista Dr. Cláudio Galvão de Castro Jr, Presidente da SOBOPE e Chefe do Serviço de Oncologia e Hematologia Pediátricas do Hospital da Criança Santo Antônio. “É preciso entender que as diferenças entre os cânceres infantis e em adultos são muitas. Nas crianças, por exemplo, importa mais o tipo de célula afetada do que a localização do tumor. Além disso, apesar de mais agressivos e se tornarem invasivos mais rapidamente, os tumores infanto-juvenis, quando tratados corretamente, respondem melhor”.
Nesse quesito, os brasileiros, mesmo que incertos, são otimistas. Para 40% dos entrevistados, o índice aproximado de cura do câncer em crianças e adolescentes, quando tratado corretamente, é de 70%. “Nisso eles estão corretos; apesar da maioria dos quadros de câncer infanto-juvenil ser preocupante, eles têm maior taxa de cura”, reforça.
Tipos de câncer mais comuns na infância e adolescência
O levantamento identificou que para 68% dos brasileiros as leucemias, linfomas e tumores cerebrais são os tipos de câncer que mais atingem essa faixa etária, seguido de 20% que identificou os cânceres de pulmão, intestino e fígado, e 12% que elegeram os cânceres de mama, próstata e estômago.
“Apesar de acertarem ao indicar que as leucemias, linfomas e tumores cerebrais são os mais prevalentes entre crianças e jovens, os brasileiros desconhecem outros cânceres infanto-juvenis importantes, como o neuroblastoma, retinoblastoma e osteossarcoma”, complementa o especialista.
Hoje já é possível contar com tecnologias inovadoras para o tratamento dos cânceres infantis. No entanto, o diagnóstico precoce e correto é essencial para o sucesso do tratamento, e o desconhecimento a respeito dessas doenças se mostra uma barreira importante que ainda precisa ser transposta pelos brasileiros.
É possível observar as implicações desse desconhecimento ao comparar a prevalência dos tipos de cânceres infantis em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde a falta de conhecimento é maior, em relação à prevalência em países desenvolvidos: de acordo com o INCA, no país, o tipo mais comum são as leucemias, seguidas pelo linfoma e tumores do sistema nervoso central; enquanto que em países desenvolvidos, onde a população tem um maior acesso à informação, o linfoma ocupa o terceiro lugar, após os tumores do sistema nervoso central.
Foto capa: Cemeru (Reprodução)