Queria viajar, mas tinha medo.
Do avião.
De sair de perto dos que ama.
Do lugar para onde ia, do que para trás deixaria.
Não foi.
Queria abrir um negócio, mas tinha medo.
Dos desafios que teria.
Das privações que sofreria.
Do sucesso que talvez nunca alcançaria.
Não abriu.
Queria se casar, mas tinha medo.
Da liberdade que perderia.
Da satisfação que daria.
Das encheções que muitas vezes teria.
Não casou.
Queria ter um filho, mas tinha medo.
Das noites que não dormiria.
Do dinheiro que gastaria.
Do choro que ouviria.
Não teve.
Queria ser atleta, mas tinha medo.
Das privações que teria.
Do tempo que gastaria.
Das dores que sentiria.
Não foi.
Queria, queria e queria.
Queria mas nunca quis de verdade.
Nunca quis com vontade.
Nunca quis a ponto de não se importar com todas as coisas que para trás teria de deixar.
Apegou-se à única coisa que nunca na verdade quis abandonar: o medo.
Grudada nele e com ele, foi pela estrada a fora dizendo o quanto queria, o quanto podia, o quanto um dia realizaria.