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Realidade de hoje

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Em meu último dia antes das férias,  me despedi de todos na maior farra:

 

“Daqui a 30 dias, estarei de volta, meu povo. Não chorem. Estarei mais bronzeada, mais bonita, mais sarada. Por favor, não se apavorem. Mesmo que algum nativo sarado queira me sequestrar, não temam, eu não os abandonarei. Só um detalhe: vou silenciar o grupo para que vocês sintam minha falta.”

 

Beijei todo mundo, fiz farra com a geral, mas, em vez de silenciar o grupo do trabalho, saí dele.

 

Não queria nem saber o que se passava no escritório durante minhas férias.

 

Paz e tranquilidade longe dali eram tudo o que eu queria.

 

Depois disso, aeroporto e água salgada.

 

Praia, sol e mar.

 

Descansei corpo, alma e coração.

 

Nunca em minha vida, tinha ficado tanto tempo longe do cerrado.

 

Nunca fora tão feliz.

 

Só que até o muito bom dura pouco.

 

Consegui heroicamente ficar todo esse tempo sem dizer se quer um “olá” pra ninguém. Sai dos grupos, dei férias às redes sociais e fiquei sem saber de nada que rolava.

 

Os 30 dias passaram voando e eu voltei.

Cheguei cheia de chaveirinhos e novidades, mas nem tanto quanto as novidades que lá encontrei.

 

Já na recepção, deparei-me com uma moça diferente:

 

“Bom dia. A Lili tá de folga?”

 

– A Lili não trabalha mais aqui.

 

Fiquei assustada, mas continuei entrando.

 

E, a cada mesa por que passava, sentia falta do rosto de um amigo. É que seu lugar estava ocupado por uma carinha completamente desconhecida.

 

Minhas pernas foram amolecendo quando me dei conta, ao chegar à minha mesa, que metade do pessoal a que eu dera tchau há trinta dias, tinha recebido tchau também do big ‘boss’.

 

“O que aconteceu aqui?” – perguntei a um remanescente.

 

“Eles estão cortando gastos. Mandaram embora todo o pessoal antigo e contrataram esse monte de menino pela metade do preço.”

 

Fiquei chocada, mas não me dei o direito de ficar de luto muito tempo.

 

Comecei a trabalhar imediatamente.

 

E o medo?

 

Tinha que colocar em dia minhas atividades o mais rápido possível, não podia dar motivo para aquela onda me pegar.

 

Passei a primeira semana pós-férias querendo ficar quase invisível para que ninguém se lembrasse de mim.

 

Vai que lembram e mostram a rua?

Não adiantou.

 

Justo na terça-feira, depois que o trabalho que ficara parado 30 dias estava todo girando em perfeita harmonia com o universo, recebi o telefonema:

 

“Oi, flor. Vem aqui ao RH.”

 

Olhei para meus colegas e disparei:

 

“Daqui a pouco, volto buscar minhas coisas.”

 

E assim foi.

 

Cheguei lá, eles me contaram uma história triste sobre redução dos custos e clientes.

 

Que eu era maravilhosa e que sentiriam minha falta.

Sentiriam falta, mas, mesmo assim, mandariam embora?

Tá certo.

Deram uma carta de recomendação e disseram que eu arrumaria emprego fácil em outra empresa do mesmo segmento. Afinal, era muito eficiente como Ouvidora.

Agradeci, fiz uma graça como se aquele momento fosse a realização de um sonho. Enquanto isso, a única coisa que girava em minha cabeça era:

“Ainda bem que não fiz dívida no cartão de crédito, ainda bem que quitei a viagem antes de ir, ainda bem que não tenho dívida, ainda bem que não tenho dívida.”

E, agora, enquanto procuro outro emprego, repito o mantra: ainda bem que não tenho dívida.

Só que, assim, não posso me alegrar demais não, porque não tenho hoje, mas, amanhã, elas surgirão. Então, mudarei o mantra: Quem tem um emprego pra mim? Quem tem um emprego pra mim?

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