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Revivendo a síndrome do touro

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Abrimos 2022 com a sinalização de que viveremos um ciclo de tensão, envolto no cobertor eleitoral. A par das costumeiras escaramuças que o país costuma abrigar sob a teia de uma guerra pelo poder entre protagonistas que lutam para aumentar sua fatia de bolo, desta feita estaremos diante de uma encruzilhada: à direita, descortina-se uma trilha de curvas e buracos, que dificultam a caminhada dos peregrinos pela régua civilizatória; à esquerda, uma vereda também sinuosa, que impede descortinar horizontes claros.

O fato é que, mais uma vez, padeceremos da síndrome do touro, caracterizada pela sentença: pensar com o coração e arremeter com a cabeça. Não é novidade. Os ciclos eleitorais são propícios a expandir os níveis de emoção e a enfraquecer as taxas de racionalidade. País tropical, o Brasil lapida a feição de  território emotivo, diferente do modus vivendi de nações que forjaram a identidade no cimento da racionalidade, como os países nórdicos, por exemplo.

Olhemos para o pano de fundo, onde está a lenha que alimentará fogueiras de múltiplos tamanhos: a avaliação de três anos do governo Bolsonaro; a crise sanitária, com a troca de chumbo grosso entre guerreiros da situação e da oposição; a discussão sobre as vacinas, um tema de intensa polêmica; a avaliação dos governos estaduais; as operações espetaculosas da Polícia Federal, como esta recente que teve como alvo o ex-governador de São Paulo, Márcio França, que volta a disputar o governo em outubro próximo pelo PSB; a crise hídrica, com falta de chuva em algumas regiões, rebaixamento do nível dos reservatórios e excesso de água em outras: as inundações na Bahia, Minas Gerais e outros Estados garantindo imagens fortes no espaço eleitoral.

Os dois principais fogueteiros serão Jair e Luis Inácio. O presidente, como mostra todos os dias, tende a reforçar a condição de vítima, valendo-se do escudo emotivo originado pela facada de um maníaco, Adélio Bispo, cuja recorrência ilustra a expressão do bolsonarismo desde 2018. A recente obstrução intestinal, que interrompeu o périplo do presidente em SC, foi mais um episódio perpetrado pelo Senhor Imponderável, que costuma nos visitar.

Lula, de seu lado, mostra-se como o benfeitor dos pobres, famintos e distantes do pão sobre a mesa. E mais: sem o rancor verborrágico de outrora; ao contrário, veste o manto da união, sob a bandeira de um pacto super-partidário, com que espera ter apoio de entes à esquerda e ao centro-direita. Sua aliança com Geraldo Alckmin, ex-tucano, possível candidato a vice em sua chapa, está sendo chamada de “estratégia das tesouras, cujas bandas abertas parecem mostrar diferenças. Ambas, porém, cortam apenas para o lado desejado por quem as manuseia. As redes sociais batem bumbo: gato e rato se unem. Até composições musicais viralizam exibindo as “peculiaridades” destes animais.

O lavajatismo será acusado de exorbitâncias. O troco virá na esteira de lembranças sobre o mensalão e o petrolão, a serem tirados do baú e exibidos como trunfo para mostrar a corrupção na era lulista. A questão será: o discurso “pegará”? As massas se incomodarão com o passado ou preferirão ouvir mensagens diferentes que denunciavam os subterrâneos da corrupção? Eis algumas situações que tendem a balizar atitudes e o sistema cognitivo dos eleitores: o estado da economia, falta de dinheiro no bolso, greves controladas ou um cordão de movimentos reivindicatórios, enfim, o Produto Nacional Bruto da Felicidade Social, o PNBF. Entre 0 e 10, que nota ganhará em setembro/outubro?

A insatisfação/satisfação se fará presente nas urnas. As emoções ganharão teor expressivo junto às correntes das margens, mas encontrarão resistência por parte de contingentes do meio da pirâmide. Assistiremos a uma campanha eleitoral paralela, com registros bombásticos nas redes sociais. Será uma guerra de verbos e adjetivos, desfechados principalmente por partidários de Bolsonaro e de Lula.

Chegaremos esgotados em outubro. Afinal, o país continuará patinando no mesmo lugar ou dará um salto seguro para enfrentar o amanhã? O sentimento deste escriba é de que a crise ensejará oportunidades para o Brasil. Mesmo revivendo a síndrome do touro.

 

 

 

 

 

 

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