redacao@jornaldosudoeste.com

Saneamento básico pode resolver problema dos fertilizantes no Brasil

Publicado em

WhatsApp
Facebook
Copiar Link
URL copiada com sucesso!

Lodo gerado pelo tratamento do esgoto pode suprir a necessidade da agricultura brasileira com uma nova indústria em expansão. Geração desse resíduo vai mais que dobrar com a universalização do saneamento até 2033

Por: Luciano Marques/ Agência Brasil 61 

Atualmente, apenas 45% do esgoto gerado no Brasil é coletado e tratado. Segundo o marco legal do saneamento, até 2033, 99% da população brasileira tem de ter acesso a abastecimento de água, e 90% precisa ter coleta e tratamento de esgoto. A universalização do serviço vai gerar também uma quantidade enorme de resíduos, como o lodo, a parte sólida do tratamento do esgoto. Isso poderia ser um problema se esse material for descartado em aterros sanitários, possuem uma vida útil curta e não vão suportar tamanho volume.

As concessionárias já se movimentam para encontrar uma destinação mais sustentável para o resíduo. Do lodo é possível retirar nutrientes essenciais para os fertilizantes, abrindo caminho para o protagonismo de uma nova indústria no país. A produção de fertilizantes ou de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio pode resolver a dependência da agricultura brasileira, que importa cerca de 85% do que precisa desses insumos.

Percy Soares Neto, diretor executivo da Associação Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), explica que a demanda gerada pela universalização dos serviços de saneamento é tamanha que novas indústrias vão ganhar o protagonismo no país nos próximos anos.

“A gente sempre fala que a grande mudança de conceito do saneamento é olhar a estação de tratamento de esgoto como uma central de matéria-prima. Eu tenho a possibilidade de gerar energia na digestão do esgoto, tenho a possibilidade de gerar água de reúso e tenho a possibilidade de gerar nutrientes. O Brasil é uma potência agrícola e tenho preço de nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio em alta no mercado global em função de uma guerra na Ucrânia, mas o esgoto é riquíssimo em nitrogênio, fósforo e potássio”, explica Soares.

Em 2021, o Brasil gastou mais de US$ 15 bilhões em importações de adubos e fertilizantes, já que 85% da demanda é atendida por países como Rússia, Canadá e China. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o consumo médio anual de fertilizantes gira em torno de 40 milhões de toneladas, sendo um terço para cada grupo NPK, nitrogenados, fosfatados e potássio, nutrientes bastante presentes no lodo do esgoto.

“Será que eu tenho que pegar esses produtos que a agricultura demanda em outros países, quando eu tenho uma estação de tratamento de esgoto que é uma maquininha de produzir isso? Ou eu tenho de partir para o desenvolvimento tecnológico de extrair nitrogênio, fósforo e potássio dessas estações de tratamento de esgoto? Aí está o nosso desafio maior, transformar a estação de tratamento de esgoto como essa central de produção de matéria-prima”, sinaliza.

Piracicaba

A Aegea, maior empresa privada de saneamento básico do Brasil, que atende 21 milhões de pessoas em 154 municípios, tem um case de sucesso em Piracicaba (SP) de implantação de sistema de secagem de lodo proveniente do esgoto e compostagem, introduzindo o material na economia circular.

Valdir Antonio Alcarde Junior, diretor executivo da Mirante, uma parceria público-privada da Agea na cidade, explica que o lodo é tratado como uma problemática por várias empresas de saneamento por conta dos gastos, como transporte e disposição, que podem corresponder até 60% dos custos operacionais de uma estação de tratamento. Além disso, há impactos ambientais nos aterros sanitários, já que a sua quantidade e a produção de chorume (se ainda houver muita água no material) reduzem a vida útil desses aterros.

Segundo Valdir Alcarde, os custos ainda são altos, mas projetos como o de Piracicaba, que possui uma Central de Gestão do Lodo, mostram que é possível dar um destino mais sustentável ao resíduo, reduzir custos e diminuir o impacto ambiental, já que o volume do material é reduzido em, pelo menos, 70% após o processo de secagem.

“Temos três principais estações que geram cerca de mil toneladas de lodo por mês. Os custos com o lodo hoje na concessionária giram em torno de R$ 160 mil por mês, um custo bem significativo. Temos escassez de fornecedores, pois só tem dois aterros sanitários na região, e também a necessidade de inovação de minimizar a produção de lodo, com oportunidade de aplicação de lodo na agricultura, bem como a geração de energia através da queima do lodo”, explica o diretor da concessionária.

O lodo também pode ser usado para recuperar áreas degradadas, ajudar no processo de reflorestamento e hidrocarbonização, além de ser transformado em combustível e energia em biorrefinarias e biodigestores, alguns deles já instalados em concessionárias.

 

 

Foto de Capa: AEGEA/Divulgação

Deixe um comentário

Jornal Digital
Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745