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Sarampo – especialista fala sobre a importância da vacinação contra doenças infectocontagiosas

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Casos triplicaram no primeiro semestre de 2019 no mundo e, no Brasil, o número cresceu 36,4%, alcançando 1.226 infectados, sendo 997 deles em São Paulo. Cobertura vacinal abaixo do ideal é fator de risco

 

Por  Talita G. Santos

 

São Paulo, agosto de 2019 – Segundo o Ministério da Saúde divulgou recentemente, o Brasil não registrava casos autóctones (doenças adquiridas dentro do país) desde o ano de 2000, tendo entre 2003 e 2015, apenas dois surtos, no Ceará e em Pernambuco. Em 2018, ocorreram casos na região Norte, trazidos pelos Venezuelanos que se refugiaram nos Estados do Amazonas, Roraima e Pará. Os vírus que atingiram São Paulo, este ano, vieram com pessoas que foram infectadas na Noruega, em Malta e em Israel. Desde então, já foram registrados 997 casos só no Estado. Por isso, a campanha de vacinação foi prorrogada até o final do mês de agosto (http://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45675-sarampo-mais-de-16-milhoes-de-doses-da-vacina-triplice-viral-foram-enviadas-para-todo-o-pais)

A vacinação é o meio mais eficaz e seguro para prevenção e combate de doenças infectocontagiosas. O calendário nacional de vacinação atende crianças, adultos e idosos e no total são disponibilizados pelo poder público 19 vacinas para mais de 20 doenças, cuja proteção inicia ainda nos recém-nascidos e se estende por toda a vida. Estar em dia com as imunizações não apenas protege aqueles que recebem a vacina, mas também a sociedade ao redor.  Quanto maior for o número de pessoas imunizadas em uma comunidade, menor é a chance de qualquer uma delas (que tenham ou não sido vacinadas) ficarem doentes.

A propagação de notícias falsas sobre o tema pode contribuir para a decisão errônea de não se vacinar.  E isso, gera um grande problema: a baixa cobertura vacinal. Com isso, muitas vezes, ocorre a reintrodução de doenças que no passado haviam sido erradicadas, caso do Sarampo.  Cassia Amaral, professora do curso de Medicina da Anhembi Morumbi, integrante da rede internacional de universidades Laureate, esclarece as principais dúvidas sobre o tema e fala da importância de estar com a vacinação sempre em dia.

O que são vacinas e como elas agem em nosso organismo?
Uma vacina é uma preparação biológica, que fornece imunidade adquirida ativa para uma doença particular. Elas agem estimulando o sistema imunológico a produzir anticorpos, que podem combater doenças infecciosas, tornando o indivíduo imune a elas.

Quais as diferenças entre vírus ativo e inativo para a vacinação?
As vacinas com vírus ativos são feitas de vírus vivos, que passaram por procedimentos que os enfraqueceram e possuem maior risco de causar efeitos adversos. As inativadas são aquelas feitas com microrganismos mortos ou apenas partes do microrganismo. Elas são as mais seguras, porém costumam apresentar uma capacidade de imunização mais baixa, sendo necessárias mais de uma dose para criar uma proteção prolongada.

Existem doenças que estão praticamente erradicadas. Então, por que é necessário vacinar?
Varíola e poliomielite (paralisia infantil) são exemplos de doenças erradicadas no Brasil. Ainda que a vacinação tenha reduzido a incidência de doenças evitáveis em vários países, isso não significa, de uma perspectiva global, que elas estejam sob controle. Algumas delas são mais prevalentes em determinados lugares e até nativas em certas partes do mundo, mas podem viajar com facilidade, graças à globalização. Caso não aconteça a cobertura vacinal, a doença pode atingir novamente a população. Um exemplo recente é o Sarampo, cuja incidência em São Paulo tem aumentado muito provavelmente em função da decisão errada de algumas famílias em não se vacinar.

Algumas doenças só acontecem uma vez. As vacinas têm proteção semelhante?
Nem toda doença gera proteção para sempre. O mesmo ocorre com as vacinas. Algumas geram proteção para um período bastante longo da vida, como as vacinas contra hepatite A, sarampo e caxumba, por exemplo. Outras necessitam de doses periódicas de reforço – como a difteria, o tétano e a coqueluche. Mas toda doença infectocontagiosa, mesmo as que geram proteção permanente, oferece risco de complicações que podem deixar sequelas e levar algumas pessoas a necessitarem de internação, com possibilidade de óbito.

Vacinas causam autismo ou outros problemas de saúde? Como posso ter certeza de que as vacinas não causarão problemas a longo prazo?
Não há estudos que comprovem esta correlação com transtornos do espectro autista (TEA). Foi por meio das vacinas que a varíola foi erradicada, por exemplo. Também pela vacinação foram controladas diversas doenças, como a poliomielite (paralisia infantil), o sarampo, a coqueluche e a difteria. Isso comprova a eficácia em promover proteção com segurança. Eventuais reações, como febre e dor local, podem ocorrer após a aplicação de uma vacina, mas os benefícios da imunização são muito maiores que os riscos dessas reações temporárias. É importante saber também que toda vacina licenciada para uso passou antes por rigorosas fases de avaliação de segurança e eficácia, desde os processos iniciais de desenvolvimento até a produção e a fase final, que é a aplicação.  Além disso, elas são avaliadas e aprovadas por institutos reguladores rígidos e independentes. No Brasil, essa função cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão do Ministério da Saúde. Além disso, a vigilância de eventos adversos continua acontecendo mesmo depois que a vacina é licenciada. Isso possibilita continuar monitorando a segurança do produto.

Por que existem pessoas que defendem não tomar vacinas ou não vacinar os seus filhos? No que elas se baseiam para tomar esta decisão?
Muito provavelmente por falta de entendimento sobre os benefícios da imunização para a saúde de toda a comunidade.

A aplicação de muitas vacinas no mesmo dia pode fazer mal? Ela pode sobrecarregar o nosso sistema imunológico?
Não sobrecarrega, porém, pessoas que possuem o sistema imune menos eficiente, poderão ter uma reação ou não ficar completamente imunizado contra todas as doenças previstas nas vacinações conjuntas.

Se eu esquecer de tomar alguma dose de vacina durante muito tempo, preciso recomeçar o esquema da vacinação?
Não é necessário. O lema da vacinação é “dose dada é dose contada”. Se foi feita uma dose há muito tempo, você deve continuar o esquema respeitando o intervalo entre as próximas doses. Por exemplo: para se proteger da hepatite B são necessárias três doses. Se foi feita apenas a primeira, você deve completar o esquema recebendo as duas doses restantes, independentemente do tempo transcorrido. Portanto, independentemente do tempo entre uma dose e outra, retoma-se o esquema vacinal a partir do momento que o mesmo foi interrompido. Após a tomada de todas as doses o ideal seria verificar os níveis de anticorpos produzidos, para confirmação da imunização.

Posso adiantar a próxima aplicação de vacina? Por que?
Não. É preciso respeitar os intervalos entre as doses. Aplicar várias vacinas no mesmo dia não é um problema, mas antecipar a vacina sem respeitar o intervalo mínimo entre a dose pode trazer prejuízos e não providenciar a imunização desejada.

Existe alguma vacina que não pode ser tomada junto com a outra?
Sim. Há casos em que a aplicação conjunta pode gerar interferência na eficácia das vacinas administradas no mesmo dia. Um exemplo são as vacinas contra a febre amarela e sarampo, que preferencialmente devem ser aplicadas com um intervalo de 30 dias, exceto se o risco para as duas doenças for grande e não houver tempo para esperar 30 dias – como em caso de viagem para área onde haja ocorrência de ambas.

O que são vacinas combinadas?
São vacinas que geram resposta de proteção contra várias doenças. Estas vacinas têm vários antígenos, os quais estimularão o organismo contra várias doenças ao mesmo tempo, como exemplo a tríplice viral.

Por que existem vacinas que precisam ser tomadas durante toda a vida e outras não?
Isto acontece porque o nosso sistema imune vai gerar uma resposta imunológica contra aquele antígeno (vírus ou bactéria) e essa resposta, com o passar do tempo, vai ficando mais fraca. As células de memória ficam ineficazes contra uma possível nova contaminação, por isso a necessidade de reforço, para gerar novas células de memória (de proteção).

O que aconteceria se todas as pessoas optarem por não tomar vacinas?
Poderia haver uma epidemia e até mesmo doenças que foram erradicadas podem reaparecer, pois estes microrganismos estão presentes no meio ambiente.

Uma pessoa pode contrair uma doença mesmo se for vacinado contra ela?
Sim, pode. Existem algumas bactérias ou vírus que se modificam ao longo dos anos e é diferente da vacina que tomou, ou mesmo, a pessoa já estava contaminada previamente a imunização.

Quais doenças foram erradicadas através da vacinação?
Varíola e poliomielite (paralisia infantil) são exemplos de doenças erradicadas por meio da vacinação. Contudo, se as pessoas optarem por não se vacinarem mais, há boas chances de acontecerem epidemias.

Quais doenças foram erradicadas e por conta da vacinação e está voltando por conta do movimento antivacina?
O sarampo é um exemplo de uma doença que está voltando pela falta de vacinação.

Foto capa: Ministério da Saúde

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