Por Caio Amorim – especial para o JS
De melhores hábitos alimentares ao início de um novo curso de idiomas: o sentimento de abertura de um novo ciclo presente no início do ano é sempre usado como impulso para mudanças. Desde 2014, a campanha Janeiro Branco tem utilizado esse sentimento para convidar a sociedade a ter uma nova perspectiva sobre um tema normalmente esquecido, a Saúde Mental. Este ano, tendo como slogan “Por uma cultura de Saúde Mental”, palestras, debates e outras atividades convidam a mudança de hábitos e ações no cotidiano na busca da prevenção e do cuidado próprio e do outro.
Esse cuidado pode ser atingido de várias maneiras e se engana quem pensa que todas elas custam caro. Desde 2002 os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), foram instituídos em todo o país para o auxílio das pessoas acometidas com o sofrimento mental. Os Caps podem estar presentes em cidades com mais de 20 mil habitantes, através da parceria com o Ministério da Saúde, e fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial, sistema que busca integrar os serviços da Unidade Básica de Saúde aos serviços especializados, como o atendimento psicológico e a reintegração social.
A cidade de Vitória da Conquista, a Secretaria Municipal de Saúde, através da Coordenação Municipal de Saúde Mental, conta com três desses Centros: um deles destinado ao atendimento de crianças e adolescentes, outro para o tratamento de transtornos causados pelo uso de álcool e drogas e o terceiro para adultos com transtornos mentais graves. Só o último possui atualmente 2.100 pessoas cadastradas, ou seja, que depois do acolhimento foi identificada a necessidade do atendimento através do cuidado multiprofissional oferecido pelo Centro de Atenção. “A gente acredita que qualquer nível de sofrimento tem um contexto social muito grande envolvido, de família, sociedade, onde quer que o indivíduo esteja inserido. E a gente tenta, dentro dessa construção, pensar o cuidado”, diz a gerente do Caps II, localizado no Bairro Alto Maron, psicóloga Klécia Nascimento Mendes da Silva.
O modelo adotado pelos Centros de Atenção Psicossocial é de ter múltiplos profissionais engajados no tratamento do paciente, por isso há 23 profissionais presentes no Caps II, entre médicos, psicólogos, arteterapeuta e educadores físicos. Segundo Patrícia Costa, psicóloga no Caps há 7 anos, “a proposta do serviço é de uma equipe multiprofissional, para que a gente possa enxergar a pessoa que está sob os cuidados de uma forma mais ampla. Não só no foco da clínica, mas no contexto social. E a troca de experiência de vários fazeres e saberes é muito rico, não só para gente como profissional, mas para o usuário, que tem sua necessidade contemplada de uma maneira mais integral”. Apesar do Centro ser voltado para pessoas que estão em situações mais graves, a falta de uma assistência mais ampla também torna o atendimento de psicoterapia, dentre outros tratamentos de casos menos complexos também possível. “A lógica do serviço SUS é a prevenção. Teoricamente, o Caps seria só dos [atendimento de casos] graves e gravíssimos, e aí uma das diretrizes do SUS, que é a prevenção, deixa de ser feita. Porque a demanda espontânea vai ser sempre maior que a oferta. Porque a gente tem uma equipe razoável, mas que não dá conta de todo mundo”, diz a psicóloga Klécia Nascimento.
Mas o modelo não é o único existente para o tratamento psicológico no serviço público. Vitória da Conquista também conta com modelos mais tradicionais, como o ambulatorial, onde há o processo de avaliação e reavaliação de medicação, psicoterapia individual e dinâmicas que estão mais próximas do que serviço de acompanhamento psicológico onde não haja uma avaliação mais completa das questões sociais que cercam a pessoa que procura ajuda. O encaminhamento para cada uma das formas é feita através da integração entre eles, que direcionam ao usuário o que mais se encaixa na sua necessidade. O importante é seguir o exemplo da proposta da campanha Janeiro Branco e ter cuidado com a própria saúde mental.