Quando pensam em conexão, muitas vezes as pessoas imaginam situações relacionadas à internet, smartphones e outros aparelhos. Nem sempre se dão conta que, de uma forma até sorrateira, esses recursos furtaram a palavra “conexão” de algo bem maior na vida, no cotidiano e no nosso vernáculo. Falar do significado real dela é importante, porque deveríamos exercitar muito mais este ato. Seria o conectar-se com aquilo de que gostamos, com as pessoas – de forma mais próxima, com Deus, e com aquilo que nos pertence, que apreciamos, por mais simples que seja.
Ainda me lembro da conexão que eu mantinha na infância com “coisas colecionáveis”. Eram selos, marcas de cigarro – apesar de nunca ter fumado – moedas e tantos outros objetos. Aquilo tudo me proporcionava imenso prazer. Quantas vezes, pedia para que minha avó me levasse de bonde, na cidade de Santos, litoral paulista, à região do porto. Lá sim eu encontrava pelo chão um tesouro colecionável: uma variedade de marcas de cigarros do Oriente Médio e de tantas outras regiões do mundo. Jogadas por marinheiros ou capitães dos navios aportados, eram verdadeiros achados que terminavam num ritual: depois de levados para casa, os papéis eram passados a ferro quente e colados no álbum.
Sempre colecionei, sempre tive uma relação, uma conexão mesmo, com aquilo que eu estava reunindo. Nos dias de hoje, entretanto, poucos jovens se conectam com coisas físicas, principalmente as mais prosaicas. Também é interessante observar que dificilmente se encontram jovens em feiras de antiguidade. Talvez isso se deva porque a conexão com peças antigas seja, na verdade, uma ligação com o passado. Muitos poderiam alegar que isso é uma forma de obsessão, uma patologia, mas, quando realizada de forma saudável, é uma benção ao espírito.
Aprendi com o tempo que me conectar com objetos, praticar esse hobby, me auxiliava no contato com Deus. A religião judaica, a qual professo, é rica em formas de estabelecer, por meio de objetos sagrados, uma ligação com Deus.
Mas, por qual razão estaria eu insistindo nessa relação tão fora de moda que é a conexão – não a eletrônica, digo – mas a outra, aquela que é a pura e simples ligação entre alguma coisa ou algo e nós mesmos?
A resposta talvez deveria advir de uma palavra chamada afeição. Justifico: quando nos afeiçoamos a algo, que para nós tem um valor histórico, diverso ou sagrado, aprendemos também a exercitar a conexão com as pessoas. Mais ainda, com o respeito, com a ética, aquisições que nos fazem uma imensa falta nesse país.
Infelizmente, no Brasil as conexões que ensinamos aos jovens são as do celular, as impessoais, as frias. Na política, por exemplo, não existe conexão entre o político e o povo. Numa outra análise, de um outro tema, o consumir desvairado se preocupa com o ter por ter e não o obter por uma razão maior.
Quando vejo tanta corrupção no país, penso na raiz de tudo, ou seja, o desrespeito ao outro, ao próximo. Pode soar antigo, mas são a total despreocupação e ausência de interesse com o outro que levam a tudo o que assistimos.
Agora, estou começando uma nova coleção: a de bengalas antigas. Não que esteja ficando velho, mas pelo significado delas para a humanidade. As bengalas suportam o corpo humano, num paralelo com a situação que vive a alma sofrida e desesperançosa de valores do povo brasileiro. Este só tem a Deus para recorrer.
Permitir uma conexão com tudo que o que foi pontuado aqui é um desafio. Cabe ensinar aos indivíduos em formação o real conectar-se, pois, do contrário, eles só terão o celular como referência sobre os valores perdidos. As causas pouco nobres, e a falta de afeição e respeito por nós mesmos….