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Se Deus sabia que iríamos enfrentar o mal, porque mesmo assim decide criar?

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Essa pergunta é possível ao coração humano. Deus é onisciente. Sabe tudo. Sabe o antes o agora e o depois. Sabe o que aconteceu, o que estamos vivendo e sabe o que iremos enfrentar. Assim é com a criação. Deus sabia, ao criar, que a criação seria limitada e finita, por isso atormentada por males das mais diferentes proporções. Isso faz parte do conhecimento de Deus. Sabendo que sofreríamos o mal porque mesmo assim decide criar? Primeiro temos que perceber que Deus cria por amor. Ele que é puro amor cria o mundo, que é uma obra diferente de si. O mundo não é idêntico a Deus. Se fosse idêntico seria perfeito e ilimitado, o que já dissemos que não é possível. Deus não cria a si mesmo. Ele é o eterno e incriado. Sem princípio e sem fim. A criação carrega em si os traços de Deus e do seu amor. O amor por sua natureza não se fecha em si, mas tem necessidade interna de criar. O amor não permanece fechado em si mesmo, se auto contemplando. Ele cria algo, pela própria necessidade do amor. O amor traz dentro dele mesmo a necessidade de saída. Saída para onde? Aqui a saída é o próprio ato de criar. Por isso, a criação é um ato de amor. Um amor que não se esgota pelo fato de criar, mas que se realiza na permanente atividade de amar. Deus ama continuamente a criação que sai dele.

Esse amor também é sustento contra o mal. Ele não é garantia de ausência de mal. A presença do amor não evita uma doença ou um terremoto, mas pode dar um sentido novo para aceitação desses males. Embora nos aconteça o mal podemos nos sentir guardados por um amor que nunca abandona. Esse parece ser o sentido maior para suportarmos os males. Não se deve colocar do lado do mal a onipotência de Deus que, pensamos, na maioria das vezes de forma errada, que poderia evitar os males. Do lado do mal que nos acontece podemos colocar a presença do Deus amor, que está conosco. Sofrendo conosco. Sofrendo a impotência do amor, mas dando um sentido novo ao sofrimento. Só o amor pode resignificar o mal que nos acontece.

Se isso é verdade podemos dizer que vale a pena a criação. Embora Deus sabendo que a criação, que nós, seus filhos, padeceríamos do mal, decidiu criar. É uma decisão de amor. O amor embora não entenda todo o mal, o resignifica. E a vida se resolve nos significados.  Muito embora haja o mal. Alguém poderia dizer: mas minha vida foi só sofrimento. Mesmo assim, a partir do amor dirá que valeu a pena ter nascido. O sofrimento, os males, não anulam a potência da vida e do sentido. Deus sabia que o mal seria algo inevitável, como possibilidade, na criação. Sabia que iríamos sofrer a força do mal. Contudo, sabe que o mal só é suportável na perspectiva do amor. O amor cuida. O amor dá sentido. Sendo Deus uma oferta de amor incondicional, sabia que o absurdo do mal somente seria totalmente exterminante longe do amor. Como a criação é sustentada pelo amor e a nossa liberdade recebe continuamente a oferta de amor, que dá sentido, então de alguma forma, apesar do mal, nunca estaríamos totalmente jogados no mundo e desamparados, submetidos a força do mal. Mesmo o mal mais radical poderá encontrar algum sentido se lhe tiver alcançado a palavra ou presença do amor. Por isso, a criação vale a pena apesar do mal. O mal embora seja um mistério absurdo, não tem força para desfazer o sentido radical e profundo da vida e do amor. Ele não é mais forte que o amor. Mesmo que leve à morte. Para levar à morte precisa ter havido a vida que é por si mesma produto do amor. Embora às vezes não se perceba isso, a verdade é que para sofrer o mal radical é necessário estar vivo. E se eu dizer que a vida não vale a pena porque o mal é forte e destruidor, deveria admitir que a vida para a maioria não é isso. O mal que eu sofro não deveria simplesmente anular o sentido da vida em si mesma. Não deve anular o sentido da vida e sua beleza. 

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745