A angústia era visível.
Rosto vermelho, mãos derretendo, pés que não paravam de se movimentar:
“Mas eu preciso compreender. Preciso entender o motivo de tudo isso.”
Rosto sereno, mãos descansadas sobre o colo, pés tranquilamente acomodados um ao lado do outro:
– Apenas faça o que estou dizendo, vai dar certo.
Levanta, anda pela sala, procura palavras:
“Não consigo simplesmente fazer algo tão importante sem saber qual motivo, o porquê.”
Sentado estava, sentado continuou:
– Vou te contar uma história, será que você pode sentar para ouvir?
Na hora ouviu-se um baque de quem se larga no sofá mais próximo.
– Estavam em alto mar quando a brisa suave começou a cantar diferente. Começou a soprar cada vez mais forte. As nuvens brancas foram sendo tingidas pouco a pouco: de cinza a negras, foi de um instante para o outro. A tripulação do barco pequenino manteve a calma e trabalhava para que a situação não saísse do controle. Continuaram concentrados no que estavam fazendo, cada um cumprindo sua função, trabalhando para passarem por aquele momento difícil. Foi quando uma onda gigante invadiu a pequena embarcação.
Quando ela se foi, descobriram, em desespero, que havia menos um.
Esqueceram-se das atividades que desenvolviam para salvar a própria pele, para salvar a embarcação. Agora, havia menos um.
Viram, não muito longe do barco, em meio à tempestade, quem faltava.
Lançaram uma corda que milagrosamente foi pega.
Tão rapidamente quanto fora, voltara.
Agora, lutar contra a tempestade parecia ser fichinha, estavam todos ali, eram fortes e juntos destemidos.
Olhou para o narrador como se nada entendesse:
“E o que essa história tem a ver com a minha tempestade particular?”- falou já com as mãos na cabeça, voltando à realidade.
Sem alterar a voz ou a respiração:
– No pequeno barco havia regras, eles a seguiam. Quando começou a tempestade, todos sabiam o que cada um deveria fazer. Quando alguém foi atirado ao mar, desestabilizaram-se por um momento, mas, no instante seguinte, retomaram o controle, saíram da situação. Voltaram ao trabalho, cada um cumprindo o seu papel, sem questionar, até saírem sãos e salvos da tempestade.
Olhos esbugalhados denunciavam que o desespero aumentava a cada instante.
“Aonde você quer chegar com isso? Cadê a ajuda para minha situação? Diga logo, não suporto mais esperar!”
O desespero de um não contagiava o outro:
– Eles tinham na embarcação uma pessoa que já havia vivido todos os tipos de tempestades. Que já havia navegado por todos os mares, sabia exatamente o que fazer em cada uma das situações, e nele confiavam. O que dizia: façam. Era feito sem qualquer questionamento. É isso que eu quero de você, confie no que eu te proponho. Não questione. Vá sem entender mesmo, apenas faça o que te digo, vai dar certo.
Pela primeira vez, as palavras fizeram sentindo.
Pela primeira vez, sentou-se tranquilamente e decidiu obedecer.
Perguntou com sincera confiança o que deveria fazer.
Ouviu, anotou sem questionar.
Saiu dali para resolver.
Naquele dia, aprendeu a confiar no silêncio, a saber que o “espere” faz parte da resposta e que não há situação, por pior que seja, para qual não haja solução.
Basta confiar e obedecer, sem questionar.