Por João Paulo Machado
Quem se debruça sobre os problemas da educação no Brasil acaba deparando-se com estatísticas e situações preocupantes. Entre elas está a taxa de evasão escolar. Um número ainda muito significativo de estudantes não se sentem estimulados a continuar na escola, a buscar conhecimento.
De acordo com dados do censo escolar, divulgados pelo ministério da Educação, 12,9% e 12,7% dos alunos matriculados na 1ª e 2ª série do Ensino Médio, respectivamente, deixaram a escola entre os anos de 2014 e 2015. O 9º ano do ensino fundamental, por exemplo, tem a terceira maior taxa de evasão, 7,7%, seguido pela 3ª série do ensino médio, com 6,8%. Considerando todas as séries do Ensino Médio, a evasão chega a 11,2% do total de alunos nessa etapa de ensino.
Mesmo com a complexidade da situação, o país também dispõe de experiências positivas como as proporcionadas pelo Serviço Social da Indústria (SESI) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).
De acordo com um estudo elaborado em 2017 para analisar o desempenho da Rede SESI e das demais redes de ensino, as escolas desta rede têm o desempenho superior às demais escolas privadas no ensino fundamental, quando analisados os alunos do 5º ano, por exemplo.
Isso acontece, segundo especialistas, porque nestas instituições, os alunos são estimulados a executar, na prática, as atividades da profissão escolhida. São incentivados a buscar soluções, inovar e usar da criatividade para fazer diferente.
Para Victor Teles, gerente-executivo da Festo Didactics, empresa de treinamento e consultoria do segmento industrial, o método utilizado por SESI e SENAI coloca os alunos destas instituições passos à frente do demais para entrar no mercado de trabalho. Isso acontece porque eles são estimulados a aprofundarem seus conhecimentos desde cedo.
Ainda de acordo com Teles, o tipo de ensino oferecido por SESI e SENAI causa um importante impacto social na população, uma vez que grande parte dos alunos destas redes “são oriundos das classes C e D”.
“Em inúmeros casos é a oportunidade da vida dessas crianças e adolescentes que encontram no SESI no SENAI o nível de ensino que suas famílias jamais poderiam arcar”, analisa. “Além disso, cumprem papel fundamental para preparação de mão de obra especializada e diferenciada para indústria. Além desse ponto fundamental para o aumento da produtividade e consequentemente da competitividade da indústria brasileira no mercado internacional”, ressalta Teles.
Somente o SESI, por exemplo, conta uma rede de escolas de que beneficia 1,2 milhão de jovens com educação básica, principalmente de famílias de trabalhadores da indústria.
Ensino técnico e profissional
O gerente-executivo da Festo Didactics afirma que os reflexos do ensino oferecido pelo SESI e também pelo SENAI podem ser observados na WorldSkills, a maior competição de profissões técnicas do planeta.
“Algo que não é de amplo conhecimento da população brasileira é o protagonismo do nosso país na competição mundial de profissões, a WorldSkills, onde jovens preparados pelo SENAI representam o nosso país em mais de 45 modalidades e figuram entre as primeiras colocações na maioria delas”, informa.
Em 2017, por exemplo, o Brasil se manteve na elite da educação profissional com um total de 34.901 pontos, alcançando o 2º lugar geral na competição.
“Como destaque de medalhas recorrentes nas diversas edições do WordSkills estão as ocupações mecatrônica, polimecânica, web design, refrigeração e usinagem que são de grande valia e de grande importância para a indústria no mundo todo”, conclui o executivo.
Mesmo com todos esses resultados, o ensino oferecido pelas instituições pode estar, em parte, ameaçado. O Governo Federal tem sinalizado que irá executar cortes de 30% a 50% nas verbas repassadas a instituições do sistema S, do qual faz parte o SESI e o SENAI.
Para especialistas, a decisão pode provocar graves consequências para a educação técnica e, até mesmo, para serviços de saúde prestados à população brasileira.
Com 2,3 milhões jovens matriculados, o SENAI é o principal responsável pela formação técnica e profissional de jovens e trabalhadores brasileiros para vários setores da indústria. Os cursos, dos quais 70% são gratuitos, são oferecidas em 541 escolas em todos os estados e no Distrito Federal. Segundo cálculos do SENAI, 162 delas fechariam as portas com os eventuais cortes.