Cândido Silva, Seu Candinho, era semianalfabeto, mal sabia escrever o nome, porém era uma pessoa muito inteligente e bem informada. E dizia : “Sou analfabeto, mas não sou burro”. Exercia a profissão de moveleiro e estofador, que aprendera com o pai, ainda menino. Era muito requisitado pela perfeição do seu trabalho.
Honrado, honesto, reto, justo e digno, qualidades que o caracterizavam, por isso, era bem quisto pela comunidade. Não tinha duas palavras, era, sim, sim, não, não.
Escrupuloso, deixou de assistir televisão. Falava que a TV só noticiava crimes, roubo e furto e guerras, etc. As novelas estão contaminadas com pornografia, viados, putas e mulheres desencaminhadas, coisas que não me agradam. “Goste quem gostar, eu não concordo com essas patifarias”. “Meu programa preferido é a ‘Hora do Brasil’, onde me informo das coisas que acontecem no Brasil”.
Seu Candinho era aficionado por política, a sua indignação era com políticos corruptos, quando falava sobre esses desonestos, ficava uma fera, não admitia esse tipo de comportamento, na sua avaliação são ladrões.
Na sua cidade o povo falava que o prefeito era desonesto, corrupto que desviava o dinheiro de verbas para se locupletar e beneficiava parentes e amigos por meio de compras diversas e obras da prefeitura sem licitação ou licitação viciada. Seu Candinho não admitia esse comportamento e dizia: “Um dia, eu serei prefeito dessa cidade e colocarei as coisas nos eixos”.
Diante dessa afirmação, os políticos da oposição o convenceram a assumir a candidatura de prefeito. Ele acatou a sugestão, providenciou a filiação partidária, e se candidatou. A sua candidatura era motivo de gozação dos proponentes. Para surpresa dos persuasores, Seu Candinho foi eleito.
Por não ter o diploma primário, pois era analfabeto, o Juiz exigiu que ele fizesse do próprio punho, um pedido de diplomação por ser eleito. Os cúmplices elaboraram um pedido conforme solicitado pelo Juiz, e pôs Seu Candinho para copiar por inúmeras vezes até decorar o escrito, feito isso, o prefeito eleito entregou ao Magistrado e o assinou. Sua solicitação foi aceita e foi diplomado.
Os amigos e correligionários queriam fazer uma comemoração da vitória, porem Seu Candinho descartou a ideia dizendo: “Agora é o momento de se economizar”. Seu primeiro ato foi eliminar os pretendentes das secretarias e optou pela administração dos funcionários do setor. Podou o aumento para o prefeito e o vice e foi contra o aumento dos vereadores, tudo por conta da austeridade econômica.
Ouviu os interesses da comunidade e agiu, construiu praças, pontes, fez aguadas, atuou na conservação das estradas vicinais, calçamentos, prestigiou a produção alimentar, cuidou competentemente da saúde e da educação, esta foi privilegiada, pois entendia, como analfabeto a educação seria a menina dos seus olhos. Tudo tinha que passar por seu crivo e autorização. Admitiu como secretaria sua filha que tinha diploma universitário e o orientava. Enfim, foi considerado pela população como o melhor prefeito que a cidade já teve.
Infelizmente o TCU não aprovou suas contas por falta de documentação probatória dos gastos executados. Alguns serviços foram feitos com autônomos e não se cuidou de obter notas ou recibos. Dizia ele: a documentação são as obras e os procedimentos executados, que se faça uma comparação com os gastos de outros prefeitos pelos mesmos serviços.
Mas o que prevalece, excelência, diziam os correligionários, é o preto no branco. Não me chame de excelência, sou Candinho mesmo”. Em resposta, enraivecido, disse: “Sou preto, mas não me troco por branco”. O resultado foi a sua destituição do cargo pela Justiça Eleitoral, e as responsabilidades determinadas pela lei. Assumiu o vice-prefeito conforme a legislação.