Quando foi deitar naquela noite, Ela decidiu que, no outro dia, tudo seria diferente.
Deitou pensando assim e logo adormeceu.
Acordou cinco segundos antes do despertador começar a tocar.
Tocou.
Desligou.
Pulou da cama.
Foi ao banheiro e, ao ver seu reflexo no espelho, decretou:
“Hoje você é capaz de fazer tudo o que planejou.”
Ela vivia planejando e abandonando.
Sonhando e não trabalhando.
Querendo e não realizando.
Vivia de sonhos engavetados e planos frustrados.
Até o dia em que tomou posse de todo o poder que tinha nas mãos e assinou o decreto.
Naquele dia, o primeiro, realizou 10 por cento de tudo.
No outro dia ao encontrar seu reflexo no espelho decretou:
“Hoje você é capaz de fazer tudo o que planejou.”
Partiu para suas atividades e, ao final p, havia realizado 15 por cento.
E assim foram passando os dias.
Em todas as manhãs, ao se encontrar com seu reflexo no espelho, recitava o decreto.
Descobriu com o passar do tempo que, quando começava a se perder, era só encontrar um espelho e se lembrar da fala matutina.
Ao final do primeiro mês, já estava cumprindo suas metas com desenvoltura.
Mas apenas 20 por cento de tudo.
Mesmo assim, continuou.
Em alguns dias, não dava conta de fazer nada.
Pobrezinha, se perdia de um tanto que mais parecia cego bêbado em tiroteio.
Mesmo assim, no outro dia, ao se encontrar com o espelho, repetia:
“Hoje você é capaz de fazer tudo o que planejou.”
E partia para a próxima tentativa.
E assim Ela ia: caindo, levantando, tentando, errando…
Até que, lá pelas tantas, em um dia que nem eu, nem você, nem Ela sabemos dizer quando, as coisas há tanto programadas começaram a acontecer.
E não foi sem admiração que Ela se deu conta desse fato.
Mas, antes de conseguir, enquanto conseguia e depois de estar realizada, todos os dias ao amanhecer, quando encontrava sua maior inimiga e mais fiel aliada, a encarava e dizia confiante:
“Hoje você é capaz de fazer tudo o que planejou.”