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Sou de Direita

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Minha posição política hoje é de direita, trata-se de um posicionamento filosófico. Para chegar a tal afirmação foi preciso tentar compreender, de fato, do que se trata a divisão política “esquerda x direita”, acima do discurso superficial do “a favor do pobre x contra o pobre” e muito além da posição à mesa na assembleia nacional da revolução francesa, entre Jacobinos e Girondinos.

Acredito que a definição conceitual “esquerda x direita” começou a tomar moldes definidores a partir das explanações de dois pensadores contemporâneos, à época, Thomas Paine e Edmund Burke, ambos entusiastas da revolução americana, porém, com pensamentos antagônicos em relação à revolução francesa.

Thomas Paine, claramente influenciado por filósofos iluministas, acreditava que o movimento revolucionário francês representava um grande marco para a humanidade. Partia do pressuposto de que a razão humana seria capaz de permitir que os homens reformulassem a sua vida social a partir de um planejamento teórico, ideológico e político. Já Edmund Burke, conservador irlandês, influenciado pelo ceticismo filosófico de Hume, condenava a ideia da revolução francesa, acreditava numa política prudente, que procurasse respeitar o conhecimento herdado do passado, para assim manter o tecido social mais unificado. Para Burke, o ideário francês aliado à supervalorização da igualdade, causaria momentos de terror. O que, de certa forma, acabou sendo legitimado pelo período da Revolução Francesa que ficou conhecido como “O período do terror”. Tais conceitos basais permanecem latentes nas democracias modernas de hoje, e servem como alicerce inaugural para identificar o posicionamento político.

Durante toda a minha formação acadêmica e nos círculos de convivência social, existia uma certa automatização do pensamento de esquerda, como uma imposição inconsciente daquilo que seria certo. Não por acaso. Toda a nossa influência intelectual sobrevém do iluminismo francês e de derivações do pensamento de Karl Marx e Michel Foucault. Enaltecidos, ainda mais, por conta do período de ditadura vivenciado no país.

Não obstante, por um lapso de curiosidade, comecei a buscar informações sobre o pensamento de direita, direcionando-me a pensamentos de filósofos britânicos, dos clássicos aos contemporâneos; li sobre o conservadorismo e a ideia do ceticismo; passei a tentar compreender a ideia do liberalismo econômico associado à ideia do livre mercado. Enfim, busquei formar uma síntese, para chegar à conclusão: sou de direita!

Quando afirmo ser um posicionamento filosófico, é porque não possuo bagagem da vida fática que condicione meu posicionamento, ou seja, não sou um empresário que enfrenta a tarefa árdua de empreender em um país que pouco incentiva o empreendedorismo, tampouco sou um pescador, que recebe benefício assistencial no período de defeso, num país de poucas oportunidades.

Portanto, minha posição é filosófica, no sentido de que a “filosofia de direita” é mais condizente com a própria natureza humana. Vejamos: a filosofia de direita entende que a competição é essencial à evolução. Já a filosofia de esquerda condena a competição e enxerga a cooperação como princípio básico da evolução.

É preciso analisar, portanto, estas duas características comportamentais: competição e cooperação. A competição é instintiva, intrínseca à natureza humana, impossível de ser suprimida, por mais que uma pessoa ignore, cedo ou tarde, se encontrará em um ambiente competitivo, isso nas mais diversas áreas da convivência humana.

Já a cooperação, trata-se de deliberação moral, ou seja, é uma virtude comportamental trabalhada que necessita de uma certa compreensão de mundo e de vida. Não é instintiva, enfim.

Portanto, a partir do momento em que se condena a competição, desconsiderando sua natureza instintiva, e enaltece a cooperação, como se fosse uma virtude inata, condiciona-se o pensamento de esquerda a viver numa utopia sem fim, num ideário abstrato, vivendo na esperança do devir, em detrimento da realidade fática.

Percebam que o pensamento de direita não condena a cooperação, ela é compreendida e necessária, porém vislumbrada sobre outros moldes. Em resumo, a teoria do livre mercado parte do pressuposto de que o ser humano nunca é benevolente a priori, sempre age buscando interesses próprios e consequentemente, independentemente de qualquer virtude moral, acaba atingindo e promovendo interesses sociais, através das chamadas “mãos invisíveis” do mercado.

Exemplifico: um empresário ao abrir uma loja, a princípio, busca a satisfação pessoal, ganhar dinheiro para o seu sustento e lazer, porém, de forma indireta, gera empregos, faz circular renda, e, se o produto oferecido por seu estabelecimento não for monopólio, traz a competitividade para o mercado que, consequentemente, traz a melhoria para o consumidor final.

O que o mercado chama de cooperação voluntária, onde não é preciso ninguém ditando regras de comportamento, trata-se de uma própria necessidade do mercado, que se movimenta, independentemente da qualidade moral do indivíduo.

Por óbvio, que a ideia de um mercado 100% livre, sem nenhuma interferência estatal, soa tão utópico quanto ao ideário abstrato de supervalorização da igualdade da esquerda. Contudo, acredito, verdadeiramente, que o engrandecimento do estado traz mais malefícios do que benefícios.

No governo, assim como no mercado, existem as mãos invisíveis, porém, agem de forma completamente diferente à de Adam Smith: uma pessoa que pretende servir ao interesse público, estimulando a intervenção governamental, é levada por “mãos invisíveis” a promover interesses particulares que não faziam parte de sua intenção.

Em grau de confiabilidade, sentido estrito, prefiro o mercado às pessoas. E como disse Tocquevile “A democracia visa a igualdade na liberdade. Socialismo deseja a igualdade na servidão e na restrição”.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745