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Sucessão presidencial: 69% dos eleitores não sabe em quem votar ou pretende votar em branco ou anular o voto, diz pesquisa

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Da Redação

Os números das últimas pesquisas realizadas no País, por diferentes institutos, que não são considerados pelos pré-candidatos, partidos políticos e redações dos grandes jornais, embora reflitam o clima das ruas, indicam que uma tendência extremamente preocupante para a consolidação e fortalecimento das instituições nesses tempos em que crescem os ataques e as tentativas de limitar as investigações que estão sendo conduzidas pelo Ministério Público Federal e Polícia Federal, já tendo identificado e condenado alguns políticos de alto coturno e estão com outros tantos na mira da Justiça. Fossem hoje as eleições, a maioria expressiva do eleitorado, se o voto fosse facultativo, não compareceria aos locais de votação. E sendo obrigado a comparecer, votariam em branco ou anulariam o voto. Nesse cenário, muito provavelmente, se não houver uma profunda alteração do quadro, o futuro presidente da República será eleito sem os votos de cerca de 70% dos brasileiros, agravando ainda mais a crise já instalada. Na mesma linha, governadores de Estado, senadores da República e deputados federais e estaduais serão eleitos com o voto da minoria do eleitorado. Estará pavimentada, nesse contexto, a estrada, que hoje povoa sonhos e pesadelos, para a queda da democracia.

Os dados – por razões diversas – ignorados da pesquisa Datafolha divulgada no último domingo (10) deixam claro que o eleitorado brasileiro não demonstra disposição para votar para presidente, governador, senador da República, deputado federal ou estadual.  Nem mesmo a frase do mineiro Tancredo Neves – “a política é como uma nuvem”, ou seja, hoje está assim, amanhã, estará diferente – parece se aplicar no atual cenário político brasileiro.

Segundo o Datafolha, no levantamento espontâneo, ao responder a seguinte pergunta: “Este ano haverá eleição para presidente da República. Em quem você pretende votar para presidente na eleição deste ano?”, o eleitor apontou que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) seria eleito com 12% dos votos, seguido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – que, segundo a Lei da Ficha Limpa está impedido de participar do pleito – com 10%. A maioria, 69% dos eleitores, disseram que vão votar em branco, anular o voto ou não têm candidato (23%) ou ainda não decidiram (46%). Nove por cento dos entrevistados estão divididos entre os outros pré-candidatos já anunciados [Ado Rebelo (Solidariedade), Álvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Cristovam Buarque (PPS), Eymael (PSDC), Fernando Collor de Mello (PTC), Flávio o Rocha (PRB), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSoL), Henrique Meirelles (MDB), João Amôedo (Novo), João Vicente Goulart (PPL), Levy Felix (PRTB), Manuela D’Ávila (PCdoB), Marina Silva (Rede), Rodrigo Maia (DEM) e Valéria Monteiro (PMN)].

Pouca gente tomou conhecimento desse lado B da pesquisa Datafolha, embora, seguramente, os dados devam estar sendo estudados por marqueteiros e analistas políticos de todas as legendas, principalmente quando se observa, na pesquisa estimulada (quando são apresentados aos eleitores os nomes dos possíveis candidatos), que o número dos que não decidiram em quem votar, afirmam que vão votar em branco ou anular, é maior do que o do primeiro colocado. Enquanto o petista Luiz Inácio Lula da Silva, que legalmente estaria hoje impedido de disputar as eleições, aparece com 30% das intenções de voto, os votos nulos, brancos e os eleitores que não sabem em que votar são 34%.

Um analista político ouvido pela reportagem do JS, que concordou em falar desde que tivesse sua identidade preservada, fez questão de destacar que, embora reforce a tese da crise de representação reflita o sentimento de descrença da sociedade em relação aos políticos, o voto nulo ou em branco fortalece e beneficia justamente os políticos profissionais, a casta que está no alvo das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, suspeita de corrupção. Segundo ele, o descrédito por parte dos eleitores com a classe política e o desinteresse em relação à política, evidenciados pelo expressivo e preocupante número de votos nulos, brancos e indecisos apontados pelas pesquisas, produzem um perigoso espaço que tem sido ocupado por lideranças carismáticas e/ou populistas, que podem justificar e resultar em aventuras institucionais.

“Por serem profissionais e possuírem muito dinheiro, grande parte em espécie e que não pode ser declarada, esses políticos têm à disposição expressivo número de pessoas trabalhando nas sombras em todos os municípios. É um comércio. O político paga seus ‘cabos eleitorais’ que, por sua vez, pagam pelos votos dos eleitores. Nesse cenário, os candidatos novos ou os que ainda prezam pelos princípio da probidade – que são muitos – terão muita dificuldade em conquistar os votos necessários para eleger-se. O que fazer então? Apostar em uma campanha de conscientização do eleitorado, mostrando às pessoas que votar em branco ou anular o voto pode contribuir para que os maus políticos, os profissionais que usam a política para benefício próprio, sejam os grandes beneficiários, em detrimento dos interesses da coletividade”, observou.

A pesquisa Datafolha foi realizada entre os dias 6 e 7 de junho em 174 municípios, com 2.824 entrevistas. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança de 95%.

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