Autor: Liana Coll Fotos: Antonio Scarpinetti Edição de imagem: Renan Garcia
Nos últimos dias, países como a China, os Estados Unidos e a Rússia anunciaram avanços na produção de uma vacina contra o Sars-Cov-2, o tipo de coronavírus que causou, até o momento, a morte de mais de 16 mil pessoas no mundo. Na corrida contra a pandemia, testes clínicos em humanos já começaram em território estadunidense e no país chinês, enquanto a Rússia deu início aos testes em animais.
A conclusão desse método de imunização contra o vírus, conforme a professora do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, Clarice Arns, deverá ainda demorar alguns meses, devido aos cuidados necessários para garantir a efetividade e segurança do processo. Assim, para a pesquisadora, é fundamental que a comunidade de pesquisadores também dedique esforços ao estudo dos antivirais.
“Qualquer vacina demora, porque você tem que ver se ela consegue mesmo causar uma proteção. Em menos que meio ano é impossível obtê-la”, observa Clarice, que atua no departamento de Virologia Animal do IB e estuda outros tipos de coronavírus que afetam animais, como aqueles presentes em morcegos e aves. No entanto, para a professora, as perspectivas são positivas e, tendo as pesquisas para o desenvolvimento de vacinas começado no início de 2020, ela acredita que até o meio do ano será possível obter resultados satisfatórios.
Mas quais são as etapas necessárias para a produção da imunização contra o Sars-Cov2? “Os passos são esses: nós temos que ter o vírus isolado, e aí ele vai sendo replicado e multiplicado in vitro, em garrafas de culturas de células, ou em ovos embrionados de galinha, que funcionam como meio de cultivo. Nesses ovos embrionados são inoculados os vírus, e se retira o material para poder, então, fazer a vacina”, diz Clarice.
No caso do coronavírus, aponta, já existem várias vacinas no mercado para animais, mas que não podem ser utilizadas em humanos, na medida em que os vírus que agem sobre cada espécie são diferentes, apesar de serem da mesma família. Ou seja, o coronavírus que ataca os animais não é o mesmo que atinge os humanos. Portanto, a imunização para cada tipo de microrganismo deve obedecer um estudo específico, e não irá funcionar de forma generalizada em todas as espécies.
Aumentar o foco sobre os antivirais
Outro ponto destacado pela professora é que, no momento, tão importante quanto a pesquisa em torno das vacinas, é o estudo dos antivirais. “Já existe alguns lugares, como Alemanha, Estados Unidos, França, Israel e China que estão fazendo as vacinas. Na minha visão, é uma perspectiva positiva, mas, nesse episódio atual, nós temos que focar mais nos antivirais”.
Os antivirais, diferentemente da vacina, não atuam na prevenção, mas no combate direto ao microrganismo que causa a Covid-19, nome da doença que o novo coronavírus gera nos humanos. “O que se está fazendo hoje no mundo? Se está testando tudo que existe de fármacos, antivirais ou não antivirais, para ver se ele é capaz de inativar o vírus. Isso é rápido, porque você vai testando, em laboratório, esses fármacos já testados e aprovados [para outras doenças]”, explica Clarice.
Nesse sentido, algumas perspectivas otimistas já foram apontadas por pesquisadores em relação ao fármaco utilizado no combate à malária. Ainda em estudo, o medicamento se mostrou eficaz em casos estudados na Universidade de Stanford. No entanto, por ainda estar em fase de testes, não há nenhum protocolo seguro associado ao seu uso. O ideal seria o desenvolvimento específico para o caso do coronavírus. Mas, da mesma forma que no desenvolvimento da vacina, isso demandará mais tempo.
“Começar do zero um antiviral demora bastante tempo, pois é todo um processo mais ou menos parecido com o da vacina. Você testa ele primeiro in vitro, no laboratório, depois em animais para ver se não é tóxico e depois disso tudo em humanos”, pontua a professora, para quem ainda existe muito potencial em estudar os fármacos já existentes.
Apesar das dificuldades e da crise em torno da pandemia, há uma rede de pesquisadores dedicados incessantemente a trazer respostas eficazes à sociedade. Para Clarice, que coordenou a Rede Zika da Unicamp entre 2016 e 2017, este é um esforço fundamental. Assim como na epidemia causada pelo zikavírus, na época, a ciência e a colaboração entre os cientistas, aponta, mostram-se como um dos caminhos para a superação da doença.